13/01/2006
– O presidente da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Mércio Pereira
Gomes, negou hoje (13), por meio de nota,
que tenha questionado o direito à terra
dos indígenas brasileiros. No texto
divulgado à imprensa, a Funai diz que
o "equívoco" foi propagado
"em razão de interpretações
sensacionalistas". De acordo com matéria
publicada pela agência de notícias
internacional Reuters, Gomes teria afirmado
que os "índios têm terra
demais".
A suposta fala de Gomes
gerou reações de entidades que
trabalham com a causa indígena. Para
o Conselho Indigenista Missionário
(Cimi), entidade ligada à igreja católica,
o presidente da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Mércio Pereira
Gomes, assumiu "o discurso dos fazendeiros".
Para o vice-presidente do Cimi, Saulo Feitosa,
"isso revela o atrelamento de Mércio
Gomes e do governo Lula ao agronegócio
e às antigas oligarquias rurais do
país".
A nota da Funai , assinada
pela Coordenação Geral de Assuntos
Externos da Fundação, destaca
que Gomes "vê como motivo de orgulho
nacional o fato de o Brasil ter praticamente
12,5% de seu território constituído
por terras indígenas e, por essa razão,
considera o país exemplar no resgate
de uma dívida histórica para
com sua população de origem".
A idéia de limitação,
em cada estado, da extensão das terras
destinadas aos índios está presente
na proposta de emenda constitucional (PEC)
de autoria do senador Mozarildo Cavalcanti,
em tramitação no Senado Federal.
Na última quinta-feira
(11), o Cimi divulgou dados apontando que
2005 foi o ano com maior número de
assassinatos de indígenas na última
década, com 38 mortes. O presidente
da Funai questionou o fato de entidades apontarem
a política indigenista brasileira como
responsável pelas mortes. Segundo ele,
grande parte dos casos citados no levantamento
do Cimi é de conflitos internos entre
os próprios índios.
Há um mês,
o povo guarani-kaiowá está abrigado
em barracos na beira da estrada – que liga
a cidade de Antonio João a Bela Vista
(MS). No dia 15, eles foram despejados, por
ordem do Supremo Tribunal Federal, das terras
que já haviam sido homologadas pelo
presidente da República. A Funai afirma
tentar alocar um terreno para os mais de 500
índios.
Após o despejo, o
índio Dorvalino da Rocha, de 40 anos,
foi assassinado a queima-roupa. Uma criança
guarani-kaiowá morreu de desnutrição
e 15 quinze crianças estão doentes.
Sem terras para plantar, o povo indígena
sobrevive de cestas básicas e água
fornecidas pela Fundação Nacional
da Saúde (Funasa).