12/01/2006 - Estudo sobre
o cultivo de transgênicos do ISAAA,
entidade financiada por Monsanto, Syngenta
e Bayer, entre outras, ignora também
o aumento das moratórias aos transgênicos
em vários continentes e a perda de
produtividade de agricultores
O panorama cor-de-rosa a
respeito dos transgênicos que o ISAAA
(sigla em inglês para Serviço
Internacional para a Aquisição
de Aplicações Agrobiotecnológicas)
tenta mostrar em seu último relatório
sobre transgênicos não tem a
menor correspondência com a realidade
que esse tipo de cultivo vivencia hoje. O
estudo indica um crescimento da área
plantada de transgênicos em todo o mundo,
especialmente o Brasil, e credita esse aumento
à “confiança de milhões
de fazendeiros na biotecnologia”. Vale lembrar
que o ISAAA é uma entidade financiada
por empresas como Monsanto, Syngenta e Bayer.
O documento do ISAAAA falta
com a verdade ao ignorar a maciça oposição
que os transgênicos enfrentam em todos
os continentes, seja entre agricultores, consumidores
ou governos nacionais e locais. A indústria
alimentícia e o setor de varejo, por
exemplo, deram forte sinalização
em 2005 de que não estão dispostos
a colocar em risco sua imagem e utilizar ingredientes
transgênicos que são rejeitados
pelos consumidores. No Brasil, o trabalho
do Greenpeace mostra que é cada vez
maior o número de empresas que rejeitam
transgênicos. Em 2005, nomes de peso
como Danone, Wal-Mart e Bauducco baniram o
uso de transgênicos em seus produtos.
Em relação
à produção da soja no
campo, segundo as projeções
da produtividade de soja pela Conab, no Rio
Grande do Sul, onde praticamente 98% da produção
de soja é transgênica, a produtividade
do plantio de soja será de 1.980 kg/ha
para a safra de 2005/2006. No Paraná,
onde o cultivo de soja transgênica é
inexpressivo, a produtividade será
de 2.870 Kg/ha para o mesmo período.
Os dados mostram que a soja transgênica
não será capaz de manter os
mesmos níveis produtivos esperados
para a soja convencional.
Internacionalmente, 2005
também acumulou uma seqüência
inédita de moratórias a sementes
geneticamente modificadas, começando
com a Polônia, em março, que
baniu o milho Bt da Monsanto, e terminando
com a Suíça, em novembro. Nos
países em desenvolvimento, o cenário
não foi diferente. A Kraft Foods na
China declarou em dezembro que vai banir de
todos os seus produtos para o mercado chinês
ingredientes transgênicos a partir de
2007.
“O relatório do ISAAA
infelizmente adotou mais uma vez a parcialidade
e a falta de compromisso com a verdade, respondendo
apenas aos anseios da indústria de
biotecnologia e às multinacionais produtoras
de sementes geneticamente modificadas”, afirma
Gabriela Couto, bióloga, Coordenadora
da Campanha de Engenharia Genética
do Greenpeace. “Com isso, tenta desesperadamente
fazer do cultivo transgênico a imagem
da pedra de salvação dos agricultores
pobres e da solução para a fome
no mundo.”
O relatório não
menciona que os tipos de transgênicos
criados e comercializados no mundo são
apenas dois: resistente a agrotóxicos
(tipo RR) e resistente a insetos (tipo Bt).
Estudo de Charles Benbrook do ano passado
mostra que as culturas transgênicas
utilizam mais agrotóxicos do que as
culturas tradicionais, com incremento do uso
de pesticidas de 16,4% no ano de 2004. As
variedades Bt mostraram-se extremamente danosas
à vida silvestre, eliminando insetos
fundamentais no controle biológico
da cadeia alimentar.
“O discurso usado pelo ISAAA
e pela indústria de biotecnologia de
que a nova tecnologia traria produtos com
mais nutrientes do que as variedades tradicionais,
voltados para produção de fármacos
em plantas e com menor dano ao meio ambiente,
são apenas falsas promessas que vêm
se repetindo há 30 anos”, completou
Gabriela.