18/01/2006
– Na fronteira do Brasil e outros países
amazônicos convivem militares e povos
indígenas em uma relação
nem sempre harmônica. "Temos questionado
a forma como o Exército tem se imposto,
desrespeitando nossos territórios milenares",
disse o coordenador-geral da Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (Coiab), Jecinaldo
Sateré-Mawé.
Além das críticas
ao uso do território indígena,
há relatos de discriminação.
Maria Gonçalves, da etnia Tariano,
moradora distrito de Iauaretê, em São
Gabriel da Cachoeira (AM), no Alto Rio Negro,
na fronteira com a Colômbia, diz que
"há muita humilhação
dos oficiais indígenas. Mesmo tendo
o segundo grau completo, dificilmente conseguem
virar cabos", afirmou.
Maria Gonçalves e
Enerstina Alves (que é da etnia Dessano
e também mora em Iauaretê) contaram
que antigamente parte dos soldados se envolvia
com muitas jovens e depois desapareciam quando
elas engravidavam. Hoje já é
diferente, conta. "Os militares quase
todos vivem lá com suas famílias.
Quando um soldado faz arruaça, os indígenas
reclamam e ele é transferido",
ressaltou Gonçalves.
De acordo com o chefe de
Estado Maior do Comando Militar da Amazônia
(CMA), general Villas Boas, o Exército
é "bastante rígido com
normas, mas não podemos retroceder
à Idade Média e impedir que
dois jovens namorem". Ele disse que quase
todos os 27 pelotões de fronteira amazônicos
estão sediados em áreas indígenas.
"Se você pegar a foto de um pelotão,
você não consegue distinguir
quem é indígena e quem é
soldado. Porque os índios também
são brasileiros, também entram
para o Exército e formam a maior parte
dos cabos e soldados que atuam na região",
ponderou o general.
O general também
defendeu a presença militar em reservas
étnicas, já que, segundo ele,
contribui para impedir as invasões
do território e, conseqüentemente,
proteger a cultura dos povos indígenas.
"Na terra Yanomami
há três pelotões de fronteira:
Auari, Surucucu e Maturacá. Nessas
áreas você não tem garimpo
ilegal, extração ilegal de madeira,
biopirataria ou contrabando", exemplificou
o general. "Além disso, a presença
do índio facilita a atuação
do Exército, pela vinculação
dele com o território, seu conhecimento
da região".
De acordo com dados do Conselho
Indígena de Roraima (CIR) e do Coiab,
cerca de 430 mil índios vivem na Amazônia
Brasileira e representam 60% da população
indígena do país.