16/01/2006
- Ambientalistas e produtores rurais discordam
quanto ao nível dos impactos ambientais
negativos que a monocultura da soja tem provocado
no Brasil desde a sua chegada, no Rio Grande
do Sul, em 1914. Segundo o presidente da Federação
da Agricultura do Rio Grande do Sul, Carlos
Speroto, houve impactos, tanto que foi preciso
fazer um intenso trabalho de recuperação
das matas e rios depois de alguns anos de
plantio. O assunto é o tema desta segunda-feira
(16) do especial "Soja, um grande negócio",
que a Rádio Nacional transmite.
A discussão em torno
do impacto ambiental da monocultura da soja
se agravou com o início do cultivo
nas regiões do cerrado brasileiro,
a partir do final dos anos 80. Segundo o cientista
Charles Clement, do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (Inpa), o agronegócio
da soja acabou com o cerrado "sem saber
o valor de sua biodiversidade e este foi um
dos grandes crimes dos últimos vinte
anos".
A legislação
ambiental é outro fator a prejudicar
o cerrado, com proteção maior
a áreas de floresta, de acordo com
os especialistas ouvidos no rádio-documentário.
De acordo com a lei em vigor, o produtor rural
pode usar uma área três vezes
maior, se for no cerrado, do que na floresta,
onde quase 80% da propriedade precisam ser
colocadas como área de proteção
ambiental, e não podem por isso ser
destinadas ao uso agrícola.
Apesar da proteção
legal, o avanço da cultura da soja
na Amazônia, a partir do Mato Grosso,
é outra preocupação dos
ambientalistas. A trajetória seguida
até agora não tem sido das melhores,
segundo o diretor do Instituto Emílio
Goeldi, do Ministério da Ciência
e Tecnologia, Peter de Toledo. Ele garante
que está muito preocupado porque tem
observado "bolsões na Amazônia
que estão sendo desmatados devido à
agregação que a soja está
trazendo para a economia local". Ele
acha que isto provocará "um problema
profundo".
A presidente do Grupo de
Trabalho Amazônico (GTA), Leide Aquino,
que reúne mais de 500 organizações
não-governamentais (ONGs) e associações
ambientalistas, também participa do
episódio "Impactos Sociais"
no documentário "Soja, um grande
negócio". Ela é radicalmente
contrária à chegada do cultivo
da soja na Amazônia, embora já
tenha se firmado em Mato Grosso, Rondônia
e Roraima, por considerar que não é
esta a sustentabilidade que defende para a
região.
Outro a acompanhar com atenção
os impactos ambientais provocados pela monocultura
da soja por onde ela tem passado é
o coordenador do Instituto Socioambiental
(ISA), André Lima. Ele diz que não
pode aceitar a conversão de áreas
de "ecossistemas ricos em biodiversidade"
em monocultura de soja que, segundo ele, "visa
somente o ganho imediato sem qualquer análise
da importância dessas áreas de
floresta e de cerrado que estão sendo
perdidas".