20/01/2006
- Quase a metade dos 58 milhões de
toneladas de soja previstos para a próxima
colheita no Brasil será do tipo geneticamente
transformada. A soja transgênica, a
partir de agora deixa o campo das discussões
e passa para o terreno do fato concreto. As
conseqüências do novo cenário
agrícola brasileiro são apresentadas
hoje no especial "Soja - um grande negócio",
transmitido pela Rádio Nacional e que
pode ser ouvido, na íntegra, na página
da Agência Brasil na internet.
De acordo com o diretor
de Pesquisa e Produção da Associação
Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem),
Ivo Carraro, nos próximos anos o crescimento
do plantio de soja transgênica será
maior, porque "a tecnologia, realmente,
facilita bastante a vida do agricultor".
Ele lembrou que em algumas regiões,
como o Rio Grande do Sul, a próxima
colheita de soja transgênica será
de quase 100%. Bahia e Mato Grosso, segundo
ele, também estão com índices
bastante altos.
Para o chefe-adjunto de
pesquisa e desenvolvimento da Embrapa-Soja,
o crescimento da espécie transgênica
noBrasil, a partir de agora, "é
apenas uma questão de mercado".
A empresa de pesquisa agropecuária
do governo federal investe, por isso, na aprovação
de várias espécies, descobertas
por seus técnicos, para que possam
ser usadas em troca do pagamento de "royalties".
A aprovação depende da nova
Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTNBio) que está
formando seu conselho de representantes.
Para o chefe do Departamento
de Comércio Exterior da Confederação
da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA), Antonio Donizeti Beraldo, é
necessária maior presteza da CTNBio)
na liberação das novas espécies
de soja transgênica. Segundo ele, isso
acabaria com o predomínio da multinacional
Monsanto, que detém os direitos sobre
a marca Roundup Ready, a mais usada no mundo.
Donizeti considera fundamental "democratizar
o acesso dos produtores a outros tipos de
variedades".
Outro problema enfrentado
com a chegada para valer da soja transgênica
é o grande número de sementes
contrabandeadas que continuam sendo usadas
de maneira ilegal. Para o ministro-interino
do Meio Ambiente, Cláudio Langone,
isso tem causado "conseqüências
bastante graves" para o país.
Já o diretor da Abrasem, Ivo Carraro,
considera que o nível de pirataria
de sementes de soja transgênica no Brasil
"está quase inviabilizando a continuidade
das pesquisas".
Os ambientalistas, que sempre
foram contrários ao uso da soja transgênica,
tentam se adaptar à nova realidade,
mesmo confiando que, com o tempo, os produtores
voltarão à soja convencional.
Este é o pensamento do coordenador
de campanha de engenharia genética
do Greenpeace, Ventura Barbeiro. No momento,
ele se preocupa com as questões relativas
à defesa do consumidor e o cumprimento
da Lei da Rotulagem de todo produto com mais
de um por cento de origem genética.