27/01/2006 - O agricultor
gaúcho José Nardes trocou a
soja convencional pela transgênica.
No ano passado, ele destinou 100% dos 2 mil
hectares de sua propriedade, em Primavera
do Leste, no Mato Grosso, para o plantio da
oleaginosa geneticamente modificada. Em 2004,
o produtor havia cultivado apenas cem hectares
com o grão transgênico. Decisões
como a de Nardes explicam por que o Brasil
foi o país onde mais as culturas de
OGMs se expandiram em 2005, chegando a 9,4
milhões de hectares, contra 5 milhões
de hectares do período anterior.
O aumento da área
plantada com transgênicos no Brasil
consta de relatório da organização
não-governamental norte-americana International
Service for the Acquisition of Agri-Biotech
Apliations (ISAAA). Em 2005, a comercialização
das culturas de OGMs completou 10 anos. Nesse
período, segundo a entidade, 8,5 milhões
de agricultores de 21 países cultivaram
mais de 400 milhões de hectares com
transgênicos. No ano passado, o plantio
de OGMs ocupou 90 milhões de hectares
no mundo, um acréscimo 9 milhões
de hectares em relação a 2004.
Hoje, cinco países
cultivam quase 95% - 85,4 milhões de
hectares – de toda área do planeta
destinada a transgênicos, informa a
ISAAA. Em primeiro lugar estão os Estados
Unidos, com 49,8 milhões de hectares.
Em segundo, aparece a Argentina, com 17,1
milhões de hectares. Depois vem o Brasil,
com 9,4 milhões de hectares; Canadá,
com 5,8 milhões de hectares; e China,
com 3,3 milhões de hectares. No ano
passado, França, Portugal, Checoslováquia
e Irã também passaram a plantar
organismos geneticamente modificados.
Ranking
- A soja lidera o ranking dos produtos transgênicos
mais cultivados no mundo, destaca a ONG norte-americana.
A oleaginosa ocupa 54,4 milhões de
hectares (60% do total), seguida do milho
(21,2 milhões de hectares), algodão
(9,8 milhões de hectares), e canola
(4,6 milhões de hectares). De acordo
com a ISAAA, 90% dos produtores de OGMS são
trabalhadores pobres de países em desenvolvimento.
Dos 8,5 milhões de agricultores de
transgênicos, 6,4 milhões estão
na China e 1 milhão na Índia.
O relatório da ISAAA
contém outros dados sobre o cultivo
de transgênicos. Entre 1996 e 2004,
estima a ONG, os benefícios econômicos
globais líquidos da tecnologia da transgenia
teria somado US$ 27 bilhões, sendo
US$ 15 bilhões em países em
desenvolvimento e US$ 12 bilhões em
nações industrializadas. Nesse
período, conforme a entidade, houve
uma redução acumulativa de 175
mil toneladas de ingredientes ativos de pesticidas,
equivalente a uma diminuição
de 14%.
A ISAAA calcula que 71%
da área plantada com OGMs em 2005 teve
como motivo a tolerância a herbicida.
“O custo de produção das culturas
transgênicas é, em média,
10% menor do que o das convencionais, porque
não há uso de herbicida”, diz
Nardes. “Além disso, há um aproveitamento
melhor do maquinário nas lavouras transgênicas
e um maior controle da ferrugem asiática
da soja”, acrescenta esse gaúcho que
há 26 anos migrou do Rio Grande do
Sul para o Mato Grosso.
Soja –
O plantio de transgênicos ganhou força
em Primavera do Leste, um dos maiores produtores
agrícolas do MT. “Entre quarenta e
cinco e cinqüenta por cento das nossas
lavouras de soja já são transgênicas”,
revela Nardes. O município – distante
cerca de 230 Km de Cuiabá – tem 260
mil hectares cultivados com soja, alcançando
uma produtividade de 3 mil quilos por hectares.
“Na Grande Primavera do Leste, a área
de soja é de 600 mil hectares.”
Presidente do Sindicato
dos Produtores Rurais de Primavera do Leste
e engenheiro agrônomo com Pós-Graduação
em Economia Rural, Nardes afirma que o custo
menor do cultivo da soja transgênica
não é suficiente para superar
a crise vivida no campo. “A situação
está crítica”, queixa-se, apontando
o câmbio como um dos principais responsáveis
pela queda da renda dos produtores. “A falta
de logística também é
outro fator que causa prejuízos a nossa
atividade.”
O governo federal está
fazendo investimentos para melhorar a infra-estrutura
na região, especialmente na área
de transportes. Para tanto, incluiu a BR-070,
que liga Barra do Garças a São
Vicente, passando por Primavera do Leste,
no Programa Emergencial de Trafegabilidade
de Segurança nas Estradas (Petse).
Nos próximos seis meses, o Departamento
Nacional de Infra-Estrutura de Transportes
(DNIT) aplicará R$ 5,21 milhões
em obras emergenciais nos 421,3 Km da rodovia.
Concluídas ações
emergenciais, o DNIT começará
a segunda fase de recuperação
da BR-070. No próximo dia 16, o órgão
realizará licitação para
realização de obras mais abrangentes
na estrada, adianta o coordenador-geral da
11ª Unidade de Infra-Estrutura Terrestre
(UNIT) do DNIT, Laércio Coelho Pina.
Numa terceira etapa, acrescenta, será
feita a restauração definitiva
da rodovia.
Armazenagem
– Além da recuperação
das estradas federais no MT e em outros estados,
o governo federal também tem uma linha
de crédito voltada à melhoria
infra-estrutura das propriedades rurais. É
o Moderinfra, um dos programas de investimento
do Plano Agrícola e Pecuário,
lançado anualmente pelo Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa).
Na safra 2005/06, o governo
federal programou R$ 700 milhões para
o Moderinfra. Os recursos se destinam à
instalação e modernização
de armazenagem nas fazendas e à agricultura
irrigada. O limite de crédito é
de R$ 600 mil para tomador individual e de
R$ 1,8 milhão para financiamento coletivo.
Os juros são de 8,75% ao ano, com oito
anos de prazo e mais três de carência.
OGMs no território
brasileiro
O plantio comercial de produtos
transgênicos no Brasil começou
em 2004. Por meio de medida provisória,
o governo autorizou o cultivo de soja transgênica
naquele ano. O Rio Grande do Sul foi a primeira
unidade da federação a plantar
a oleaginosa geneticamente modificada, hoje
também cultivada em outros estados.
Em 2005, a União
manteve a autorização para as
lavouras de soja OGMs. Ao mesmo tempo, permitiu
o cultivo de algodão em determinadas
regiões do país. No ano passado,
segundo dados do Ministério da Agricultura,
cerca de 109 mil agricultores – a maioria
no RS – plantaram transgênicos.
“Aos poucos, o mundo está
adotando mais os transgênicos. Esse
é o início de um processo que
vai muito longe”, diz o chefe da Assessoria
de Gestão Estratégica do Ministério
da Agricultura, Elísio Contini.