24/01/2006 - O arquipélago
do Marajó, no estado do Pará,
é um ponto crucial no passado do homem
na Amazônia, segundo os arqueologistas.
Além de sua conhecida produção
de cerâmica policrômica, o Marajó
também é fonte para se estudar
o passado colonial da região amazônica.
Na Vila de Joanes, no município de
Salvaterra, um sítio arqueológico
com vestígios indígenas e coloniais
apresenta sinais de ocupação
de 400 anos atrás. Trata-se de um local
de grande importância histórica,
devido a ruínas de uma antiga missão
religiosa construída no século
17, e ao fato de representar uma situação
de contato e convivência entre os indígenas
que habitavam a Ilha e os portugueses que
lá se estabeleceram a partir daquele
século.
No período colonial,
a Vila de Joanes tinha importância vital
para a capital paraense, Belém. Conhecida
como Vila de Monforte, abrigava um “pesqueiro
real” que, por décadas, supriu de pescado
e outros gêneros a capital da província.
Atualmente, as ruínas
da Igreja de Nossa Senhora do Rosário,
construída pelos missionários
na metade do século 17, correm o risco
de desabar pela ação do tempo,
bem como pela depredação de
vândalos. Além disso, sob a ordem
de autoridades políticas locais, parte
do sítio arqueológico de Joanes
foi destruído para a construção
de uma praça.
Entretanto, graças
às denúncias de moradores, esta
parte importante da história paraense
poderá ser preservada. O Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan) conseguiu recursos para uma
ação emergencial no sítio.
A ação de salvamento arqueológico
e educação patrimonial está
sendo coordenada pelo Museu Paraense Emílio
Goeldi (MPEG), instituição vinculada
ao Ministério da Ciência e Tecnologia,
e inclui atividades como mapeamento e delimitação
do sítio, estudo dos vestígios
arqueológicos, pesquisa histórica,
levantamento de informações
orais com moradores, entre outros. O trabalho,
realizado junto com a comunidade local, teve
início em dezembro último. As
atividades de pesquisa, contudo, começaram
no último dia 15 e deverão estender-se
até março deste ano.
Um aspecto salutar do projeto
é a participação ativa
dos moradores de Joanes nas atividades, que
desejam construir uma pequena exposição
e garantir que os materiais arqueológicos
fiquem na região. A expectativa é
de que as ações realizadas levem
à proteção do sítio,
transformando a Vila de Joanes em um ponto
de atração turística
rentável para os seus habitantes. O
trabalho de resgate arqueológico também
pode servir para unir a comunidade e conscientizá-la
ainda mais sobre a importância da preservação
de seus bens culturais.
O projeto, intitulado “Preservação,
conservação, pesquisa e educação
patrimonial no sítio histórico
de Joanes”, está sob a coordenação
do arqueólogo Fernando Marques, responsável
também pela pesquisa em diversos espaços
culturais de Belém, tais como o Museu
do Forte e a Estação das Docas,
e Denise Schaan, arqueóloga e especialista
na cultura marajoara. Ambos são pesquisadores
vinculados ao MPEG. As instituições
responsáveis são o Iphan, o
Museu do Marajó, e o próprio
Museu Goeldi, além da colaboração
da Fundação para o Desenvolvimento
da Amazônia (Fidesa).