23/01/2006
- O sertanista Sidney Possuelo foi exonerado
do cargo de Coordenador Geral de Índios
Isolados na última sexta-feira por
fazer críticas ao posicionamento do
presidente da Funai, Mércio Pereira
Gomes, sobre as terras indígenas. Mércio
afirmou à agência de notícias
Reuters, no dia 12 de janeiro de 2006, que
“É terra demais. Até agora,
não há limites para suas reivindicações
fundiárias, mas estamos chegando a
um ponto em que o Supremo Tribunal Federal
terá de definir um limite”.
Discordando de Mércio,
Possuelo afirmou ao jornal O Estado de São
Paulo, do dia 14 de janeiro: “já ouvi
esse discurso de fazendeiro, grileiro, garimpeiro,
madereiro. Mas de presidente da Funai é
a primeira vez. É de assustar”.
Para Possuelo, “se a nossa
autoridade maior diz que tem muita terra para
o índio, ela está afirmando
que a sociedade nacional e os destruidores
têm razão”.
“É a mesma coisa
que um ministro dizer que não defende
a Justiça e a ministra do Meio Ambiente
pedir a derrubada de árvores”, comparou
o sertanista.
Perfil (fonte: ISA)
O sertanista Sidney Ferreira
Possuelo, reconhecido internacionalmente por
seu trabalho em defesa da causa indígena,
foi nomeado presidente da Funai em 1991, em
substituição a Cantídio
Guimarães. Possuelo recebeu carta branca
para fazer alterações administrativas
e afirmou como prioridades o caso Yanomami
e a demarcação de 266 Terras
Indígenas.
Funcionário de carreira
da Funai, chefe da Frente de Atração
dos Arara (PA), na década de 80, Possuelo
reivindicou permanentemente ao presidente
Collor a revogação dos Decretos
23, 24, 25 e 26 (de 04/02/91), que tiraram
da Funai as responsabilidades pela educação,
saúde, projetos produtivos e meio ambiente
em áreas indígenas, transferindo-as
a outros ministérios.
Realizou uma reforma administrativa,
iniciada em 92 criando as diretorias Fundiária
e de Administração. Em sua gestão,
Possuelo distendeu a relação
do Órgão com entidades não-governamentais.
Ao criar o CDDI, convocou representantes de
ONGs para compô-lo e assinou quatro
convênios de parceria com essas entidades
no âmbito da demarcação
de terras indígenas. Sofreu forte oposição
interna por isso. O principal feito da sua
gestão foi a demarcação
física da terra Yanomami de forma contínua.
Possuelo acabou demitido
no dia 19/05/93, pelo ministro da Justiça
Maurício Corrêa, por ordem do
presidente Itamar Franco. Na versão
do próprio Possuelo, sua cabeça
rolou devido a três motivos: conflito
aberto com o ministro Henrique Hargreaves,
do Gabinete Civil - que fizera indicações
para postos de chefia da Funai no Acre e em
Goiânia; pressão de militares
inconformados com as demarcações
de terras na fronteira; e pressão de
segmentos econômicos contrariados, como
as mineradoras.