24/01/2006 - O vereador
licenciado de Vale do Anari (RO), Walter Bispo,
afirmou hoje (24) à Radiobrás
que confessou o assassinato do presidente
da Associação de Seringueiros
do Vale do Anari (Asva), João Batista,
porque temia que inocentes fossem punidos
pelo crime. "Confessei realmente porque
as pessoas que os policiais queriam punir
não tinham nada a ver com a história,
não deviam".
Apesar de ter admitido no
último dia 4, em depoimento, que pagou
R$ 1.500 para que um homem conhecido apenas
como Ismael matasse o líder seringueiro
com quatro tiros no peito, Bispo continua
a ocupar o cargo de secretário de Obras
do município. Em declarações
anteriores, o prefeito João Alves,
do Partido dos Trabalhadores (PT), afirmou
que o crime, ocorrido no dia 26 de dezembro,
não tinha relação com
a administração. "Até
agora ando pelas ruas normalmente, não
tenho encontrado dificuldades", garantiu
o acusado.
Na entrevista, o vereador
reafirmou o que já havia declarado
à polícia: que o crime teve
motivação passional. "Comecei
a sair com a ex-mulher de Batista e ele me
jurou de morte. Comentei com um amigo que
eu estava vendo a hora de ter que deixar a
cidade, largar o emprego. Aí ele me
sugeriu o assassinato", contou. "Eu
estava entre a cruz e a espada".
A Organização
de Seringueiros de Rondônia (OSR), que
agrega 10 associações extrativistas,
não acredita nessa versão. Para
a entidade, a cobiça pelas riquezas
naturais da Reserva Extrativista (Resex) Estadual
do Acariquara são a verdadeira razão
do assassinato. A vítima denunciava
a exploração ilegal de madeiras
nobres, manganês e a grilagem na área.
Em setembro de 2005, já
recebendo ameaças anônimas de
morte, Batista esteve em Brasília e
entregou à ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, um documento em que relatava
os conflitos na região. "O problema
é outro, não tem nada a ver
com a reserva", rebateu Bispo. "Mas
o que eu posso falar é que o Batista
tinha muitos problemas com os seringueiros".
O acusado, que responde
ao processo em liberdade, acredita que o julgamento
só deverá acontecer em um ano.
Ele declarou que não sabe se será
preso, que está arrependido e que prefere
não pensar no assunto. "Quem não
se arrepende? Tenho 45 anos, sem passagem
pela polícia. Nunca fui preso nem processado".
Bispo pediu afastamento
do cargo legislativo há 50 dias, justamente
para assumir a secretaria municipal de Obras.
Ele foi eleito pelo Partido Socialista Brasileiro
(PSB). O suposto autor dos disparos ainda
está sendo procurado pela polícia.