03/02/2006
- Aracampina é uma comunidade de 600
habitantes, localizada na ilha de Ituqui,
às margens do rio Amazonas, no Pará.
A população de lá vivia
basicamente da pesca e da agricultura familiar,
mas há alguns anos passou a criar gado,
a plantar seringueiras e cacau. Essas atividades
são desenvolvidas na beira do rio,
em áreas que durante metade do ano
ficam alagadas. São as várzeas,
uma região de terras férteis,
mas de ecossistema frágil.
"A gente sente que
as pastagens naturais estão diminuindo
e que os igarapés estão ficando
assoreados. Por isso, resolvemos iniciar o
reflorestamento", contou um dos coordenadores
da Associação de Mines e Pequenos
Pescadores e Produtores de Aracampina (Ampa),
Adelson Coelho, em entrevista ao Quadro Meio
Ambiente, que todas as sextas-feiras é
veiculado no programa Ponto de Encontro, da
Rádio Nacional da Amazônia.
São 55 famílias
de ribeirinhos que começaram a tirar
mudas de árvores nativas da floresta
para replantar na várzea. Desde 1997,
eles já trabalharam com 22 espécies,
a maior parte de árvores frutíferas.
"A gente já descobriu as cinco
que são mais adaptadas: catuari, urá,
tarumã, munguba e adão. Elas
crescem mais rápido e resistem melhor
às enchentes", revelou Coelho.
Em quatro anos, entre 1997
e 2000, a Ampa plantou 1,5 mil árvores
às margens do Amazonas. Em 2002, a
entidade conseguiu um financiamento de aproximadamente
R$ 80 mil do Projeto Manejo dos Recursos Naturais
da Várzea, do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(ProVárzea/Ibama). Nos dois anos seguintes,
2003 e 2004, os ribeirinhos plantaram mais
3.500 mudas.
Mais árvore na beira
do rio significa menos terra que irá
para o fundo, diminuindo a profundidade da
água. Outra vantagem é que os
frutos servem de alimento para os peixes.
"O recurso pesqueiro é a principal
fonte de renda para as comunidades",
afirmou Coelho. "Então, você
mantendo a comunidade organizada, garante
o recurso natural para as atuais e futuras
gerações".
A ilha de Ituqui fica a
quatro horas, de barco, de Santarém,
município de 274 mil habitantes, cuja
sede vem inchando em função
do avanço da monocultura da soja e
do anúncio de asfaltamento da rodovia
BR-163 (Cuiabá-Santarém). "As
pessoas de Aracampina não têm
o intuito de sair para Santarém, porque
lá está muito violento. Por
isso, temos que cuidar bem da nossa comunidade",
disse Coelho.
Além da recuperação
de áreas degradadas, a Ampa atua com
a proteção de pitiús
(espécie de tartaruga pequena da Amazônia,
cuja carne é muito apreciada na região).
O trabalho é feito pela identificação
e demarcação dos locais de desova
do pitiú, para que não sejam
violadas pelos homens nem pisoteadas pelo
gado. "Quando a cova está em praias
distantes, a gente faz o transplante delas
para mais perto, para conseguir vigiar melhor",
contou Coelho. O monitoramento jás
possibilitou a sobrevivência de 16,2
mil filhotes de pitiú em Aracampina
desde 2001.