Iperó
(14/02/06) - A gerente Executiva do Ibama
no Estado de São Paulo, Analice Pereira,
participa hoje, dia 14 de fevereiro, da Cerimônia
de Conclusão das Obras da Primeira
Fase de Restauro da Real Fábrica de
Ferro de Ipanema, na Floresta Nacional de
Ipanema, em Iperó, no interior paulista.
O conjunto remanescente do primeiro empreendimento
industrial brasileiro está sob a guarda
do Ibama, através da Floresta Nacional
de Ipanema, ainda cumprindo um dos objetivos
da criação, em quatro de dezembro
de 1810: a formação de mão
de obra especializada para o trabalho livre.
Onde antes se produzia ferro e aço,
hoje, o Ibama, por meio dos programas da Floresta
Nacional de Ipanema, capacita e cria mecanismos
de inclusão social para a população
do entorno da unidade de conservação
de uso sustentável, garantido, com
o turismo, geração e complementação
de renda.
As obras da Primeira Fase
de Restauro da Real Fábrica de Ferro
de Ipanema, patrocinadas pela Usiminas/Cosipa,
com apoio institucional da ABM – Associação
Brasileira de Metalurgia, através da
Lei Rouanet, custaram R$ 1.154.409,85 (um
milhão, cento e cinqüenta e quatro
mil, quatrocentos e nove reais e oitenta e
cinco centavos) e concentraram-se no conjunto
dos Altos Fornos, canal e Cemitério
Protestante. O Ministério da Cultura
já aprovou a captação
de recursos para o restante desse sítio
histórico cultural, que o Ibama pretende
restaurar, recuperar e revitalizar até
2010, quando será comemorado o bicentenário
de criação da Real Fábrica
de Ferro de Ipanema, e empreendendo, através
dele, mecanismos de inclusão social
para a população do entorno
da Floresta Nacional de Ipanema.
Para a Real Fábrica
de Ferro de Ipanema, que funcionou oficialmente
de 1811 a 1895, embora seus fornos tenham
permanecido em atividade até cumprir
todos os contratos, foi lavrado o primeiro
contratado de trabalho livre assalariado do
Brasil, em 1809, com a contratação
de uma equipe sueca que faria a implantação
do empreendimento. Os recursos naturais –
a floresta de mata atlântica, a água
do rio Ipanema e as jazidas de magnetita de
ferro – foram os motivadores da implantação
desse empreendimento de grande porte, no Distrito
do Ipanema, criado especialmente para sediá-lo.
Como uma sociedade acionista de capital misto,
com 13 ações pertencentes à
Coroa Portuguesa e 47 ações
a acionistas particulares de São Paulo,
Rio de Janeiro e Bahia, a Real Fábrica
de Ferro de Ipanema cumpriu os objetivos traçados
para ela: produzir munições,
armas e material bélico para o Estado,
incluindo canhões da Revolução
Liberal e armas brancas da Guerra do Paraguai;
e utensílios domésticos, gradis,
ferramentas agrícolas, instrumentos
de engenharia e engenhos, necessários
aos Brasil que nascia como nação.
Muitos de seus artigos foram premiados em
feiras internacionais. O preconceito ao oficio
metalúrgico não permitiu, a
principio, que a Real Fábrica de Ferro
de Ipanema cumprisse o papel de formação
de trabalhadores livres e assalariados: os
nacionais achavam que esse era um ofício
menor, que deveria ser exercido por escravos.
E foram 88 negros, que representavam as 13
ações portuguesas, que passaram
a receber os ensinamentos para o desenvolvimento
da Fábrica, aprendendo as primeiras
letras no final das jornadas, numa sala à
luz de velas. O preconceito fez com que a
Real Fábrica de Ferro de Ipanema recebesse,
como aprendizes, órfãos, filhos
de famílias carentes e presos a galé
e trouxesse europeus de várias nacionalidades
como especialistas na fabricação
de ferro e aço.
O Morro Araçoiaba,
que faz parte do território da Floresta
Nacional de Ipanema, já era explorado
desde o início da colonização,
onde se produzia ferro pelo método
direto, sendo o forno e forjas de Afonso Sardinha,
datados de 1589, considerados a primeira tentativa
de fabricação de ferro em solo
americano. A Real Fábrica de Ferro
de Ipanema marcou o início da produção
indireta do ferro e seus princípios
ainda são hoje utilizados pelas siderúrgicas
nacionais, sofisticando-se os processos de
produção e modificando-se as
medidas: as usinas de aço calculam
em toneladas o que antes se media em pás,
equivalentes a dois quilos. A sobreposição
de minerais e combustível continua
sendo realizada da mesma forma, retirando-se
ainda o ferro líquido do chão.
O conjunto da Real Fábrica
de Ferro de Ipanema pode ser visitado de terça
a domingo, das oito às 17 horas, quando
a Floresta Nacional de Ipanema está
aberta aos turistas e escolas.