15/02/2006
– A primeira etapa do Programa Amazônia,
que vai definir estratégias locais
de desenvolvimento sustentável, deve
ser concluída hoje (15), após
o período de discussão entre
representantes do governo e da sociedade civil.
A secretária de Coordenação
da Amazônia do Ministério do
Meio Ambiente, Muriel Sagusse, uma das coordenadoras
do programa, disse que ele deve estar em pleno
funcionamento em 2008, quando termina o Programa
Piloto para as Florestas Tropicais Brasileiras
(PPG-7). Em entrevista à Agência
Brasil, ela detalhou o plano, que vai abranger
os nove estados da região amazônica
e atuar em áreas como o desenvolvimento
de formas alternativas de energia.
Agência Brasil:
O que é o Programa Amazônia?
Muriel Sagusse: É a atuação
de forma estratégica para alavancar
projetos de desenvolvimento sustentável
na região a partir da qualificação
e capacitação de recursos humanos.
O objetivo não é fazer todo
o trabalho de desenvolvimento sustentável,
mas atuar naquilo que é estratégico
para dar uma base ao desenvolvimento sustentável.
ABr: Na prática,
como isso vai funcionar? Quais são
esses pontos estratégicos?
Sagusse: O Brasil tem um programa de saúde
para a Amazônia. Então, o programa
não vai fazer atendimento à
saúde, mas se for necessário
uma ação específica por
causa de um surto de malária, isso
será possível. O Brasil tem
conhecimento técnico e recursos para
fazer a gestão de resíduos sólidos,
mas isso ainda não foi testado na Amazônia
- poucas cidades, aliás, têm
isso. O programa vai atuar em projetos nesse
sentido. Também vai apoiar a capacitação
de técnicos para que eles possam desenvolver
projetos para captar recursos. Há casos
em que um consultor faz o projeto e o entrega
ao prefeito, que capta o recurso, mas não
tem ninguém que o implemente. Vamos
apoiar a capacitação das prefeituras
e alguns projetos demonstrativos para testar
métodos diferentes.Em outra questão,
a de energia, por exemplo. O custo de puxar
mil quilômetros de linha para levar
energia a uma comunidade afastada de três
mil habitantes não vale a pena. As
opções são energia solar
e a diesel, que é o que a maioria das
cidades do interior da Amazônia tem.
Vamos fomentar uma série de atividades
de produção que têm resíduos
que podem gerar biogás, biomassa, e
fazer eletricidade. O programa vai disseminar
a tecnologia, informar como se faz e montar
alguns programas-piloto.
ABr: Então,
o programa vai atender a demandas específicas?
Sagusse: Temos alguns planos específicos
e outros gerais. A Amazônia produz muita
matéria prima, mas transforma pouco.
Há uma demanda muito grande na área
de redes de comercialização
dos produtos e do apoio à industrialização
e transformação desses produtos
para agregar valor. Às vezes uma coisa
simples, como uma máquina que quebra
a castanha e permite transportar só
a amêndoa sem a casca, dá um
valor cinco vezes maior ao produto. Fora o
fato de que essa casca é biomassa e
pode gerar energia local. O programa vai pensar
esse conjunto de atividades.
ABr: Ele traz diretrizes
gerais, mas não projetos. É
isso?
Sagusse: Esperamos ter três ou quatro
projetos prontos até o meio do ano.
Isso é importante até para a
captação de recursos. Mas pelo
volume do programa e pela necessidade de trabalhar
com parcerias locais muito bem organizadas,
ele deve estar funcionando plenamente a partir
de 2008, quando termina o PPG-7 [Programa
Piloto para as Florestas Tropicais Brasileiras].
Então teremos um período de
transição.
ABr: Qual a diferença
entre o PPG-7 e o Programa Amazônia?
Sagusse: A noção de piloto.
O PPG-7 nunca atuou na área urbana,
não trabalhou com energia nem atuou
com o setor privado, que agora foi incorporado.
Antes, cada setor fazia o seu projeto separadamente,
não havia um projeto de desenvolvimento
regional.