22/02/2006
– O lançamento de uma cartilha com
os impactos sócio-ambientais previstos
com a construção das usinas
hidrelétricas Santo Antônio e
Jirau, no Rio Madeira, deu início hoje
(22) a uma mobilização contra
esse projeto.
O presidente da organização
ambientalista Rio Terra, Alexis Bastos, disse
que a cartilha Viva o Rio Madeira Vivo "é
o começo de uma campanha popular de
mobilização contra essas obras".
O texto de 22 páginas será apresentado
no Fórum de Debates sobre Energia de
Rondônia (Foren) em Porto Velho. "Aqui
no estado só o lado bom do empreendimento
está sendo apresentado às pessoas,
por Furnas, pela mídia e pelo governo",
disse.
O organizador do texto,
Artur Moret, doutor em Planejamento Energético
e professor da Universidade Federal de Rondônia
(Unir), disse que é preciso "mostrar
o que está por trás da construção
dessas usinas, que modelo de integração
da Amazônia é esse, que não
inclui as pessoas e só se preocupa
com o capital".
Moret explicou que foram
feitas 5 mil cópias da cartilha, que
serão distribuídas gratuitamente
em escolas, faculdades, organizações
não-governamentais (ONGs), movimentos
sociais e veículos de comunicação.
"O texto é voltado para formadores
de opinião, ele é difícil
para quem não tem hábito de
leitura", esclareceu Moret. "Mas
já estamos trabalhando em uma outra
cartilha, mais ilustrada e com linguagem mais
simples".
O local do lançamento
da campanha é estratégico: na
Praça da Estrada de Ferro Madeira Mamoré
- Porto Velho, ferrovia que será parcialmente
alagada pelas barragens. Além da perda
do patrimônio histórico, outros
problemas que o empreendimento trará
ao estado, apontadas pela cartilha, são
o reassentamento de dois mil ribeirinhos,
que terão suas casas alagadas, enfrentarão
dificuldades em conseguir indenização
(porque não possuem documento da terra)
e perderão sua fonte de renda (a pesca);
o inchamento populacional de Porto Velho;
o assoreamento do rio Madeira, nos trechos
anteriores às barragens; as alterações
ambientais nocivas aos animais e plantas protegidos
pelas estações ecológicas
de Moji Canava e Serra Dois Irmãos,
que ficam na área de influência
das usinas.
A capacidade de geração
das novas hidrelétricas será
de 6,45 mil megawatts, mais da metade da energia
produzida pela usina hidrelétrica de
Itaipu (a maior do Brasil, com potencial de
gerar 11,20 mil megawatts) e 20 vezes o atual
consumo total de energia em Rondônia.
A construção das duas barragens
faz parte da viabilização da
hidrovia do rio Madeira, que vai permitir
o transporte da soja do Centro-Oeste pelo
Oceano Pacífico, passando pela Bolívia
e pelo Peru.
As obras devem demorar de
oito a dez anos – e só serão
iniciadas após a obtenção
da licença ambiental prévia,
seguida da concorrência pública
para sua execução (por meio
dos chamados leilões de energia). O
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
ainda analisa o Estudo de Impacto Ambiental
(EIA) elaborado pelas Furnas Centrais Elétricas
e pela construtora Odebrecht. A audiência
pública em Rondônia está
prevista para abril.
O site www.riomadeiravivo.org
deverá ainda hoje trazer informações
e ações da campanha Rio Madeira
Vivo. Fazem parte do fórum o Grupo
de Pesquisa em Energia Renovável e
Sustentável da Unir, o Conselho Indigenista
Missionário (Cimi), a Comissão
Pastoral da Terra (CPT), a ong ambientalista
Canindé, a rede Grupo de Trabalho Amazônico
(GTA), a Organização dos Seringueiros
de Rondônia (OSR), a ONG Rio Terra e
o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).