Além
de pesquisa científica e da preservação
dos macacos, trabalho busca fazer dessa espécie
o símbolo para a proteção
da Mata Atlântica.
Leões, girafas, elefantes.
Esses são os animais que as crianças
brasileiras em geral associam às florestas.
Dificilmente mencionam, por exemplo, os mono-carvoeiros
ou muriquis, macacos bastante pacíficos,
de cauda comprida, cuja principal característica
é trocar abraços pela manhã.
Reverter em parte essa visão é
uma das propostas do Projeto Muriqui-do-Sul,
desenvolvido pela Associação
Pró-Muriqui.
O trabalho tem sua principal base operacional
e logística no Parque Estadual “Carlos
Botelho” – localizado na região sudeste
do Estado, a 210 quilômetros da capital.
Essa Unidade da Conservação
está vinculada ao Instituto Florestal,
da Secretaria do Meio Ambiente.
Além de desenvolver pesquisa científica
e promover a preservação dos
muriquis, o projeto também divulga
esses animais como espécies-símbolo
da Mata Atlântica e do Estado de São
Paulo. Busca com isso promover associação
similar à que se faz entre algumas
espécies e determinados países,
como os pandas e a China ou os cangurus e
a Austrália. A intenção,
segundo o coordenador-geral do Projeto, Maurício
Talebi, é que os muriquis sirvam de
referência para conservação
de outros animais e da floresta tropical atlântica
ainda existente no território paulista.
“Segundo a coordenação-geral
de fauna do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e Recursos Naturais Renováveis (Ibama),
as atividades com muriquis no Parque Carlos
Botelho constituem uma das duas prioridades
nacionais em termos de pesquisa e conservação
desses primatas no país”, observa Talebi.
A outra é o trabalho realizado em fragmento
florestal de 600 hectares, na Estação
Biológica de Caratinga, em Ipanema,
Minas Gerais.
Treinamento de estudantes
Maior primata das Américas,
o muriqui é espécie indicadora
da Mata Atlântica, ou seja, sua presença
atesta o nível de preservação
de determinada área. Encontrado exclusivamente
na Mata Atlântica do Sudeste do Brasil,
tem duas espécies reconhecidas. O muriqui
do sul (Brachyteles Arachnoides) habita áreas
florestais no sul do Estado do Rio de Janeiro,
ao longo da Mata Atlântica remanescente
no Estado de São Paulo e no Norte do
Paraná. O muriqui do norte (Brachyteles
hypoxanthus) é encontrado em Minas
Gerais e no Espírito Santo. Esses primatas
medem cerca de 85 centímetros de altura
e tem 80 centímetros de cauda. Apresentam
pelagem beje-clara, sendo que os muriquis
do sul têm rosto e as mãos totalmente
pretos. Vivem nas copas das árvores
e se alimentam exclusivamente de frutos, folhas
e flores.
Estima-se que existam no Brasil cerca de mil
muriquis do sul, dos quais 500 encontram-se
no Parque Carlos Botelho. Com relação
ao aos muriquis do norte, há cerca
de 700 indivíduos no País. Um
dos trabalhos em andamento no Projeto Muriqui-do-Sul
é o censo de populações
do primata no estado. Outro tipo de atividade
são as pesquisas científicas
sobre esses animais em ambiente natural, englobando
comportamento alimentar e reprodutivo, anatomia,
demografia, entre outros, que fornecerão
informações científicas
inéditas.
O projeto abrange, ainda, o treinamento de
estudantes de graduação e recém-formados.
O objetivo é a criação
de recursos humanos qualificados para atuar
no próprio projeto ou em outras áreas
de conservação de recursos naturais.
Para este ano, a intenção é
que o projeto seja transformado em programa
de pesquisa, com a finalidade de possibilitar
a expansão de trabalhos científicos
e o início de atividades nas áreas
de educação ambiental e desenvolvimento
rural, principalmente selecionando instituições
parceiras no Estado de São Paulo.
Trabalho também
protege os recursos hídricos
Proteger os remanescentes
de Mata Atlântica para, conseqüentemente,
proteger os mananciais de águas que
abastecem os grandes centros urbanos. Esse
pe outro ponto importante do Projeto Muriqui-do-Sul,
segundo Maurício Talebi. “O uso de
espécies de referência traz maior
nível de consciência sobre a
necessidade de conservação das
florestas”, observa.
Ainda coma finalidade de se preservar essas
áreas de vegetação nativa,
o projeto busca fornecer subsídios
científicos sobre mecanismos que possam
reverter em recursos financeiros para essas
atividades de conservação. Um
exemplo é o estabelecimento de parcerias
para investigação do potencial
farmacológico das espécies arbóreas
que fazem parte da dieta dos muriquis.
Os estudos com os primatas nas longas extensões
de mata contínua do Parque Carlos Botelho
começaram em 1986, por iniciativa de
Karen Strier, da Universidade de Wisconsin,
sugiram, segundo Talebi, da necessidade de
estudos comparativos esses animais. A Associação
Pró-Muriqui (www.pro-muriqui.org.br)
surgiu em 2000. É constituída
por pequeno número de pesquisadores,
que buscam apoio institucional público
e privado. Tem parceiros nacionais (como Instituto
Florestal, a Conservação Internacional
e a Fundação Biodiversitas)
e internacionais (Universidade de Cambridge,
na Inglaterra, e Margot Marsh Biodiversity
Foundation, dos EUA).