05/03/2006
– Os agricultores familiares já são
responsáveis por 40% de toda a renda
gerada no meio rural brasileiro e geram 8
a cada dez postos de trabalho no campo, hoje,
segundo os dados do governo federal. Também
produzem a maior parte da comida consumida
pelos brasileiros. No futuro, segundo especialistas
presentes aos eventos preparatórios
da 2ª Conferência Internacional
sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento
Rural, os agricultores familiares também
serão os grandes guardiões do
meio ambiente. E mais: poderão até
mesmo receber dinheiro por isso.
A discussão sobre
o futuro da agricultura familiar foi tema
central na abertura da plenária do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural
Sustentável (Condraf), no início
da noite de ontem (4). A sessão contou
com a presença do ministro Miguel Rossetto,
do Desenvolvimento Agrário.
Para Ignacy Sachs, socioeconomista
polonês radicado no Brasil e na França,
a manutenção dos sistemas ambientais
básicos, como rios e florestas, deverá,
no futuro, ficar a cargo dos agricultores
familiares. "Quem pode fazer isso melhor
que eles, que já o fazem tradicional
e historicamente?", perguntou ele. Sachs
acredita, também, que as comunidades
tradicionais da Amazônia, como índios
e seringueiros, poderiam executar o papel
de guardiões da mata com mais eficiência
do que um serviço de guarda florestal.
"A primeira coisa que
a agricultura familiar tem de cuidar é
do equilíbrio do meio em que produz.
Uma empresa pode esgotar os recursos naturais
de um local e se mudar para outro país.
Uma família não: se um pai sabe
que seu filho, seu neto terão que viver
daquela terra, ele vai se empenhar em preservar
aquele sistema", explica o italiano Paulo
Croppo, assessor da divisão de Desenvolvimento
Rural do Fundo das Nações Unidas
para a Agricultura e a Alimentação.
Ele foi outro dos participantes da plenária
do Condraf. "Não é uma
visão maniqueísta, é
econômica. Os interesses são
distintos: um precisa cuidar, o outro pode
não cuidar. É só isso."
Croppo acredita que as sociedades
vão progressivamente perceber que,
racionalmente, o sistema da agricultura familiar
é superior ao do agronegócio.
"As pessoas vão ver que o melhor
sistema não é aquele que produz
mais dólares pelas exportações,
mas não gera empregos e degrada o meio
ambiente. O ideal é ter um equilíbrio
entre dinheiro, geração de empregos
e sustentabilidade ambiental."
Segundo dados citados por
Sachs em sua conferência, em média,
são necessários 200 hectares
de soja, produto típico do agronegócio,
para gerar um único emprego. Café
e cacau, precisam de 30 hectares para gerar
um posto de trabalho. Já a horticultura,
tipicamente familiar, gera um emprego por
hectare, e o cultivo de flores, 15.
A 2ª Conferência
Internacional sobre Reforma Agrária
e Desenvolvimento Rural, evento organizado
pelas Nações Unidas em parceria
com o governo brasileiro, acontece a partir
de segunda-feira (6), na capital gaúcha.
A plenária nacional do Condraf também
termina na segunda.