10/03/2006
- A construção da rodovia Manaus-Boa
Vista (BR-174) quase extinguiu o povo Waimiri-Atroari,
que vive no norte do Amazonas e no sul de
Roraima. Desde 1998, porém, os indígenas
monitoram os 125 quilômetros de estrada
que atravessam seu território - e a
população voltou a crescer em
uma média 6% ao ano.
"Em 1974, os Waimiri-Atroari
eram estimados em 1,5 mil pessoas. Em 1987,
um censo mostrou que só restavam 374
indígenas. Mas agora eles já
são 1.106 indivíduos",
contou o coordenador do programa Waimiri-Atroari,
Marcílio Souza Cavalcante, em entrevista
ao quadro Meio Ambiente, que todas as sextas-feiras
vai ao ar no programa Ponto de Encontro, da
Rádio Nacional da Amazônia.
O Programa Waimiri-Atroari
é executado pela Fundação
Nacional do Índio (Funai), em parceria
com a Eletronorte. Ele foi criado em 1987,
quando a construção da usina
hidrelétrica de Balbina inundou 36
mil hectares do território desse povo
- demarcado no mesmo ano, mas homologado dois
anos depois, com 2,5 milhões de hectares.
Os 80 funcionários atuam principalmente
na promoção da saúde
e educação formal (escolas bilíngues)
dos indígenas.
"Os Waimiri são
um povo guerreiro , que vivia totalmente livre
e sem contato com os brancos", lembrou
Cavalcante. "Mas em 1974 foi construída
a BR e houve conflitos violentos com os trabalhadores.
Depois, as doenças levadas pela nossa
sociedade – como gripe, sarampo, varíola
e malária – foram matando os índios".
O programa passou então
a vacinar os indígenas. Em 1997, quando
a BR-174 foi asfaltada, só puderam
trabalhar nas obras pessoas que não
tivessem doenças contagiosas.
"Antes do asfaltamento,
o Exército acompanhava em comboio,
durante o tempo todo, a passagem de veículos
pela terra indígena, com medo de ataques.
Lá pelos anos 80, passou a fazer isso
só durante a noite", revelou Cavalcante.
"Com o asfaltamento e o nosso trabalho,
o controle do tráfego passou para a
comunidade indígena".
Cavalcante contou que durante
a noite, duas cancelas que ficam na altura
dos quilômetros 208 e 326 da rodovia
proíbem a passagem de veículos,
com exceção de ônibus
e daqueles que transportem carga perecível.
"A gente também monitora a quantidade
de animais que morrem atropelados. Infelizmente,
ainda é alta: são cerca de 40
por mês".