16/03/2006 - Cientistas
dos cinco continentes estão reunidos
em Curitiba para o seminário Biodiversidade
- A megaciência em foco. O evento, apoiado
pelo Ministério do Meio Ambiente, tem
como objetivo unir esforços para responder
a três perguntas cruciais que ainda
não têm respostas: quantas espécies
habitam os ecossistemas da Terra, onde estão
distribuídas e como se relacionam umas
com as outras?
"A solução para estas questões
está na informação. Nessa
linha, um dos passos fundamentais é
aumentar as coleções científícas,
que são a documentação
básica da biodiversidade", afirmou
Bráulio Dias Ferreira, gerente de Conservação
da Biodiversidade do Ministério do
Meio Ambiente (MMA). Ele explicou que essas
coleções têm como principal
objetivo armazenar, preservar e ordenar o
acervo de espécimes que representam
a diversidade biológica de uma determinada
área.
O seminário, que tem a colaboração
de 40 intituições internacionais
e conta com a presença de diretores
dos principais museus naturais do mundo, segue
até o dia 19 e é preparatório
para a 8ª Conferência das Partes
da Convenção sobre Diversidade
Biológia (COP-8), que tem início
no próximo dia 20 de março,
em Curitiba. A organização é
da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência (SBPC), Academia Brasileira
de Ciências (ABC), União Internacional
de Ciências Biológicas (IUBS)
e Associação Memória
Naturallis (AMNAT).
Presidente da Associação Memória
Naturallis (ANMAT), rede de museus de história
natural e instituições brasileiras
que possuem acervos socioambientais, Leandro
Salles também defende que "sistematizar
a biologia é fundamental para o entendimento
da biodiversidade e sua preservação".
Mas acrescenta que isso depende não
apenas do aumento das coleções
como também da melhora do conhecimento
sobre as espécimes já depositadas
nos acervos.
Este é um desafio ainda maior para
o Brail, uma vez que as principais coleções
sobre a fauna e flora brasileiras estão
no exterior, especialmente na Europa e, em
alguns casos, nos Estados Unidos. "Nessa
reunião queremos fazer com que os países
detentores dos grandes bancos de dados se
comprometam a trabalhar em conjunto com os
países megadiversos e, em parceria,
possamos definir metas prioritárias
de estudo", explicou.
Peter Toledo, da Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência (SBPC), enfatizou
que o seminário vai ajudar a organizar
esse esforço e levar as conclusões
para os tomadores de decisão. "Há
necessidade de que os cientistas discutam
e definam suas prioridades para que os governos
de todos os países consigam utilizar
a ciência como pano de fundo para o
estabelecimento de políticas públicas",
afirmou. As principais conclusões serão
apresentadas em um evento paralelo à
COP-8. "Estamos trazendo a biodiversidade
como megaciência e a gente espera que
a palavra dos cientistas seja levada em consideração",
acrescentou.
No Brasil, Toledo informa que as áreas
para pesquisa são aquelas na eminencia
de sofrer perda total, como a Mata Atlântica,
parte do Cerrado e regiões endêmias
na Amazônia "que são as
menos representadas, por coincidência,
nas coleções brasileiras".
O seminário foi dividido em três
workshops. O primeiro deles, Biodiversidade
e Sistemática, possui cinco sessões
de trabalho. Entre os assuntos tratados está
a biodiversidade marinha, uma área
ainda muito carente de pesquisas. Para este
tema um dos palestrantes convidados é
Philippe Bouchet, biólogo do Museu
Nacional de História Natural (Paris)
e um dos principais especialistas sobre o
assunto no mundo. Também em pauta,
os
inventários brasileiros e as coleções
da América Latina. Os outros dois workshops
são Repartição de Benefícios
e Bioética e Sustentabilidade.