13/03/2006
- Publicação, que será
lançada em 21 de março – véspera
do Dia Mundial da Água – dimensiona
os impactos da urbanização,
desmatamento e poluição para
a produção de água de
um dos principais mananciais de São
Paulo. E alerta que, sem proteção
e recuperação, a fonte que abastece
3.7 milhões de pessoas pode secar.
Quase quatro milhões
de moradores da Região Metropolitana
de São Paulo bebem água de uma
fonte que está se esgotando. A represa
da Guarapiranga, que completa em 2006 seu
primeiro centenário, é um dos
principais mananciais da maior metrópole
brasileira. E o mais ameaçado. A ocupação
urbana e atividades humanas - como desmatamento
e mineração - que proliferam
no seu entorno, somadas ao aumento constante
da poluição e do assoreamento
da represa e dos rios que compõem a
Bacia Hidrográfica da Guarapiranga,
podem inviabilizar definitivamente a capacidade
do manancial de produzir água. Como
a Região Metropolitana de São
Paulo dispõe de poucas fontes com qualidade
e quantidade adequadas para o abastecimento
público, a proteção e
recuperação das condições
ambientais da Guarapiranga é fundamental
para o futuro da cidade de São Paulo.
Este é o principal
alerta da publicação GUARAPIRANGA
2005 – Como e por que São Paulo está
perdendo este manancial, que o Instituto Socioambiental
lança no próximo dia 21 de março,
véspera do Dia Mundial da Água.
O relatório é resultado do Diagnóstico
Socioambiental Participativo da Bacia Hidrográfica
da Guarapiranga, estudo levado a cabo pelo
ISA entre o começo de 2004 e o fim
de 2005. Apresenta e analisa dados de uso
e ocupação do solo, desmatamento,
expansão urbana, diversidade biológica
e qualidade da água, comparando situações
encontradas entre 1989 e 2003 na bacia hidrográfica.
Oferece, assim, um conjunto atualizado de
informações sobre a bacia hidrográfica
e suas dinâmicas, como subsídio
para o planejamento e execução
de políticas públicas adequadas
a nova realidade local.
Uma represa cada
vez menor – e mais suja
O estudo mostra, por exemplo,
que 42% da bacia da Guarapiranga sofre algum
tipo de intervenção humana,
como a abertura de pastagens, lavouras ou
minerações. São estas
intervenções que, muitas vezes,
dão origem aos núcleos habitacionais
que se adensam em locais proibidos ou perigosos,
como encostas ou perto de corpos d' água,
e que já ocupam 17% da área
da bacia. A situação não
poupa nem as áreas de preservação
inseridas na bacia: cerca de 37% das Áreas
de Proteção Permanente (APPs)
estão invadidas ou ocupadas. A vegetação
nativa, por sua vez, fundamental para produção
de água com qualidade, foi reduzida
a pouco mais de um terço da área
total da bacia. A diminuição
da mata, a intensa ocupação
humana e a superexploração para
abastecimento estão contribuindo para
a redução da represa: em 30
anos, a Guarapiranga encolheu de tamanho em
20%.
Cerca de 800 mil pessoas
vivem na área da Bacia Hidrográfica
da Guarapiranga. Entre 1991 e 2000, a população
aumentou em 37,8% (são 210 mil novos
habitantes em 10 anos). Apenas a metade dessa
população (53.9%) tem rede de
esgoto instalada em suas residências.
Porém, a maioria do esgoto coletado
por estas redes é despejada nos rios
e na represa, ao invés de ser transportada
para tratamento. Os esgotos domésticos
e a poluição difusa gerada na
bacia, proveniente das atividades humanas
e dos resíduos urbanos e rurais, são
a origem da poluição presente
na represa, que cada vez mais compromete a
qualidade da água.
Este quadro poderá
ser agravado com a construção
do Trecho Sul do Rodoanel. Os 57 quilômetros
da rodovia serão integralmente pavimentados
em áreas de proteção
aos mananciais da região sul da Grande
São Paulo. Os impactos da obra – como
o assoreamento de nascentes e o desmatamento
– poderão ser potencializados pela
péssima situação já
existente na região. Para evitar essa
situação, a publicação
recomenda a criação de um conselho
gestor para acompanhar de forma rigorosa o
cumprimento das medidas de compensação
e mitigação ambientais do empreendimento,
entre outras ações.
A publicação
oferece ainda uma perspectiva de recuperação
da Guarapiranga ao sugerir a implementação
de uma política de produção
de água baseada da proteção
efetiva dos mananciais, sustentada em investimentos
constantes dos governos, criação
de Unidades de Conservação e
recuperação de áreas
degradadas. E recomenda que essa política
seja não mais resumida em ações
ocasionais e intermitentes, mas parte de uma
estratégia consequente de planejamento
urbano para a Região Metropolitana
de São Paulo.
Linguagem simples
e distribuição gratuita
O relatório, contudo,
não se destina apenas à especialistas
e técnicos em recursos hídricos.
Escrita em linguagem simples, a publicação
tem o objetivo de ser compreendida pelo público
em geral. Deste modo, visa disseminar conceitos
e informações que expliquem
e valorizem a questão da água
que abastece a maior cidade da América
Latina. Neste sentido, cópias do relatório
serão disponibilizadas gratuitamente
aos interessados, em versões digitais,
pelo site www.socioambiental.org.
A versão impressa será distribuída
no evento de lançamento.
A publicação
do GUARAPIRANGA 2005 – Como e por
que São Paulo está perdendo
este manancial é parte de uma série
de ações que o Instituto Socioambiental
planeja realizar em 2006. Seu lançamento,
em 21 de março, é aberto ao
público e abre uma agenda de eventos
que tem desdobramentos em maio, com a realização
do Seminário Guarapiranga, e em junho,
com um evento de comemoração
pelos centésimo aniversário
da represa. A produção do Diagnóstico
Socioambiental Participativo da Bacia Hidrográfica
da Guarapiranga, que deu origem a GUARAPIRANGA
2005 – Como e por que São Paulo está
perdendo este manancial, contou com o apoio
do Fundo Estadual de Recursos Hídricos
(Fehidro) e de diversas organizações
governamentais e não-governamentais.
Este lançamento, em 21 de março,
conta com o apoio da Secretaria do Meio Ambiente
do Estado de São Paulo.