14/03/2006
- Hoje (14), Dia Mundial de Ação
Contra as Represas e pelos Rios, a Água
e a Vida - ou apenas Dia Mundial contra Barragens,
como é mais conhecido - movimentos
sociais e entidades ambientalistas de Rondônia
fazem protestos contra o projeto de construção
de duas usinas hidrelétricas no Rio
Madeira (Jirau e Santo Antônio). O bispo
de Porto Velho, Dom Moacir Grechi, realiza
uma celebração religiosa para
marcar a data e em seguida os manifestantes
farão um passeio de barco pelo Madeira.
"Eu não tenho
nada contra o progresso. Pelo contrário,
eu gostaria de ver todo o amazonense, todo
rondonense com condições de
vida digna", declarou o bispo. "Mas
eu sou obrigado a tomar posição
quando o progresso é duvidoso, quando
a gente leva em conta todas as outras hidrelétricas
do Brasil. Pelas informações
que nós temos, muita coisa do ponto
de vista social e ambiental deixa a desejar".
O local da celebração
é o mesmo onde há três
semanas foi lançada a campanha "Viva
o Rio Madeira Vivo": a Praça da
Estrada de Ferro Madeira Mamoré - Porto
Velho, patrimônio histórico que
será parcialmente alagado pelas barragens.
As informações e ações
da campanha podem ser acompanhadas pela interne,
no endereço www.riomadeiravivo.org.
A campanha é uma
iniciativa do Fórum de Debates sobre
Energia de Rondônia, do qual fazem parte
o Grupo de Pesquisa em Energia Renovável
e Sustentável da Universidade Federal
de Rondônia (Unir), o Conselho Indigenista
Missionário (Cimi), a Comissão
Pastoral da Terra (CPT), a ong ambientalista
Canindé, a rede Grupo de Trabalho Amazônico
(GTA), a Organização dos Seringueiros
de Rondônia (OSR), a ong Rio Terra e
o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Além da perda do
patrimônio histórico, outros
problemas que o empreendimento trará
ao estado, apontados pelos membros do Fórum,
são: o reassentamento de 2 mil ribeirinhos,
que terão as casas alagadas, enfrentarão
dificuldades para conseguir indenização
(porque não possuem documento da terra)
e perderão sua fonte de renda (a pesca);
o inchamento populacional de Porto Velho;
o assoreamento do rio Madeira, nos trechos
anteriores às barragens; as alterações
ambientais nocivas aos animais e plantas protegidos
pelas estações ecológicas
de Moji Canava e Serra Dois Irmãos,
que ficam na área de influência
das usinas.
A capacidade de geração
das novas hidrelétricas será
de 6,45 mil megawwatts, mais da metade da
energia produzida pela usina hidrelétrica
de Itaipu (a maior do Brasil, com potencial
de gerar 11,20 mil megawatts) e 20 vezes o
atual consumo total de energia em Rondônia.
A construção das duas barragens
faz parte da viabilização da
hidrovia do rio Madeira, que vai permitir
o transporte da soja do Centro-Oeste pelo
Oceano Pacífico, passando pela Bolívia
e pelo Peru.
As obras devem demorar de
oito a dez anos – e só serão
iniciadas após a obtenção
da licença ambiental prévia,
seguida da concorrência pública
para sua execução (por meio
dos chamados leilões de energia). O
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
está analisando o Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) elaborado pelas Furnas Centrais
Elétricas e pela construtora Odebrecht.