13/03/2006
- As visitas têm o objetivo de identificar
iniciativas inovadoras que possam servir de
exemplo para a disseminação
de práticas sustentáveis. O
trabalho é parte do estudo sobre agricultura
familiar que foi articulado por organizações
integrantes da campanha e está sendo
desenvolvido na região mediante um
convênio firmado com a Secretaria de
Agricultura Familiar (SAF) do Ministério
do Desenvolvimento Agrário (MDA).
Fevereiro foi marcado por
uma série de novas viagens de campo
de técnicos da campanha ‘Y Ikatu Xingu
– que pretende proteger e recuperar as nascentes
e as matas ciliares do rio Xingu no Mato Grosso
– para conhecer iniciativas socioambientais
de sucesso que estão ocorrendo na bacia.
As visitas têm o objetivo de identificar
experiências inovadoras que possam servir
de exemplo para a disseminação
de práticas sustentáveis. O
trabalho é parte do estudo sobre agricultura
familiar que foi articulado por organizações
integrantes da campanha e está sendo
desenvolvido na região mediante um
convênio firmado com a Secretaria de
Agricultura Familiar (SAF) do Ministério
do Desenvolvimento Agrário (MDA).
O estudo surgiu da constatação
de que, ao contrário do que se pensava,
a Bacia do Xingu no norte de Mato Grosso possui
um contingente expressivo de agricultores
familiares e "chacareiros", como
são conhecidos na região, que
estão fora dos assentamentos de reforma
agrária e, portanto, carecem de programas
e políticas públicas específicas
para atendê-los. Os objetivos do trabalho
são: fazer um diagnóstico sócio-econômico
e ambiental da agricultura familiar, identificar
boas práticas sociambientais e avaliar
a viabilidade econômica de algumas cadeias
de produtos agroflorestais.
Nesta etapa, foram visitadas
duas microrregiões com forte presença
do segmento, abrangendo os municípios
de Guarantã do Norte, Nova Santa Helena
e Terra Nova do Norte, na região da
rodovia BR-163, e Querência, Canarana
e Ribeirão Cascalheira, no eixo da
BR-158.
Em Guarantã do Norte,
onde predomina a pecuária, os integrantes
da mobilização conheceram ações
de recuperação e manejo sustentável.
Foram visitadas duas propriedades que adotaram
o sistema de rotação de pastagens,
que requer áreas menores do que o utilizado
normalmente e, portanto, diminui pressões
por novos desmatamentos. Nas mesmas áreas,
também é feito o manejo ecológico,
no qual é permitida a convivência
do capim com algumas espécies nativas.
Ainda em Guarantã
do Norte, os assessores da ‘Y Ikatu Xingu
travaram contato com o trabalho de um grupo
de pequenos agricultores que vem plantando
cana-de-açúcar para a produção
de açúcar mascavo. Além
de ser orgânica, ou seja, sem o uso
de agrotóxicos, a produção
também está sendo realizada
de forma coletiva, há dois anos, por
sete agricultores. O grupo cultiva oito alqueires
de terra e já conseguiu, inclusive,
um financiamento pelo Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf)
do governo federal.
Em Vila Atlântica,
localidade do município de Nova Santa
Helena onde a extração de madeira
já chegou a ser a principal atividade
econômica, os técnicos da campanha
visitaram o “condomínio” formado por
19 agricultores familiares que estão
cultivando guaraná também com
o método orgânico. Eles já
conseguiram instalar uma agroindústria
que processa o fruto, deixando-o pronto para
comercialização.
Em Terra Nova do Norte,
foi a vez de conhecer a Cooperativa dos Agricultores
Ecológicos do Portal da Amazônia
(Cooperagrepa), ganhadora do prêmio
Chico Mendes 2005, ofertado pelo Ministério
do Meio Ambiente (MMA), na categoria Negócios
Sustentáveis. A organização
foi criada para tentar agregar valor aos produtos
da agricultura familiar na região e
difundir práticas ambientalmente sustentáveis.
A cooperativa vem trabalhando na reorganização
dos pequenos agricultores, na identificação
e abertura de mercados, na superação
de gargalos das cadeias produtivas da região
e na articulação de diversas
iniciativas. A instituição tem,
hoje, 300 famílias de agricultores
sócias. Além deles, há
extrativistas associados que totalizam 32
núcleos de produção.
Em Querência, integrantes
da mobilização estiveram na
única Escola Família Agrícola
(EFA) existente no Mato Grosso. Difundida
em outros Estados do Brasil, a instituição
utiliza o método da “pedagogia da alternância”
pelo qual o estudante fica 15 dias na escola
e 15 dias em casa, aplicando o que aprendeu
na propriedade rural da família. “Trata-se
de um foco de resistência, um ponto
de apoio na tentativa de implantar um novo
modelo de desenvolvimento, que identificamos
como parceiro prioritário”, explica
Rodrigo Junqueira, analista socioambiental
do Instituto Socioambiental (ISA), uma das
organizações integrantes da
‘Y Ikatu Xingu.
A escola tem 150 alunos
de várias localidades das bacias do
Xingu e do Araguaia, cursando da 5ª série
do ensino básico ao 2º ano do
ensino médio. “O principal objetivo
do projeto é viabilizar a produção
da própria família do aluno.
O potencial de disseminação
de informações e práticas
dos estudantes é enorme, daí
o interesse da campanha em firmar uma parceria
estratégica”, completa Junqueira.
Ainda em Querência,
os participantes da mobilização
‘Y Ikatu Xingu conheceram uma articulação
de aproximadamente 500 agricultores familiares
que começa a implementar um projeto
de produção agroflorestal integrada.
Todo o trabalho, desde a coleta de sementes
de espécies como a seringueira, o pequi
e a pupunha, até o preparo das mudas
para posterior enxertia e plantio no campo,
é feito de forma coletiva, envolvendo
diferentes segmentos da sociedade local. A
iniciativa pretende viabilizar alternativas
econômicas que conciliem a geração
de renda, a conservação e o
manejo dos recursos naturais.