21/03/2006
- Brasília - O Brasil tem mais de 2
mil instalações nucleares e
radioativas que funcionam sem acompanhamento
adequado no que diz respeito à segurança,
afirmaram os deputados membros da Comissão
de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
em relatório aprovado hoje (21).
A usina de produção
de energia elétrica Angra 2 e a mina
de exploração de urânio
de Caetité (BA), por exemplo, funcionam
irregularmente com autorizações
provisórias, segundo levantou o grupo
de trabalho da Comissão que elaborou
o diagnóstico sobre a segurança
das atividades que envolvem fontes nucleares
e radioativas.
Além disso, o grupo
de trabalho constatou que a destinação
dos rejeitos nucleares e radioativos no Brasil
ainda é precária. Eles revelaram
que o único depósito definitivo
no país é o de Abadia de Goiânia
(GO), onde está depositado o lixo radioativo
transportado da Avenida Paranaíba,
Setor Central de Goiânia, onde em 1987
ocorreu o maior acidente radioativo do país.
Na época, catadores
de papel encontraram uma bomba de césio
137 usada num equipamento radiológico
de uma clínica desativada. Cerca de
300 pessoas foram contaminadas, em diferentes
graus, pela fonte radioativa manipulada pelos
catadores e por donos de ferros velhos que
compraram partes da fonte.
Os deputados apontam ainda
no relatório que as piscinas que guardam
o rejeito das usinas Angra 1 e 2 são
provisórios e, segundo pesquisadores
ouvidos, a capacidade desses depósitos
pode não ultrapassar o ano de 2015.
O controle de fontes radioativas também
foi considerado falho pelos deputados.
"Os profissionais ligados
à Associação dos Fiscais
em Energia Nuclear, que nos ajudaram voluntariamente
com informações valiosas, nos
deram conta de que não confiam no banco
de dados que a CNEN [Comissão Nacional
de Energia Nuclear, que regula e fiscaliza
as atividades do setor] opera. Eles disseram
que o banco de dados é desatualizado
e não dá a verdadeira dimensão
de quantas fontes são e de onde estão",
disse o relator do documento, deputado Edson
Duarte (PV-BA).
Outro problema apontado
pelo grupo de trabalho é o fato de
não haver planos de emergência
para atuar diante de acidentes nucleares ou
radioativos. "O Brasil mostrou que não
aprendeu a lição com Goiânia",
observou. Eles constataram que o plano de
evacuação das usinas de Angra,
por exemplo, sofreu alterações
sem que a população local fosse
esclarecida sobre os motivos.
"Eles reduziram o raio
de segurança e proteção,
de 15 quilômetros para 5 quilômetros.
Não tivemos da Eletronuclear, que opera
as usinas, uma explicação convincente
para tal decisão. É um contrasenso.
No mundo inteiro, principalmente depois de
Chernobyl, há uma tendência de
aumentar o raio de atuação de
planos de emergência", relatou
Duarte, citando o acidente nuclear ocorrido
na Ucrânia em 1986, considerado um dois
piores no mundo.