23/03/2006 - Brasília
- O presidente da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Mércio Pereira
Gomes, informou hoje (22) que ainda não
recebeu a notificação da Polícia
Federal sobre a existência de 11 roças
de maconha em terras pertencentes a índios
guajajaras, no Maranhão. A Polícia
Federal pretende destruir as plantações,
mas precisa de autorização da
Funai para iniciar a operação.
"Eu não recebi
a notificação da PF. Pode ser
que a Funai tenha recebido, mas eu passei
o dia inteiro no Itamaraty ontem e ninguém
me comunicou sobre isso", disse Gomes,
em entrevista à Rádio Nacional
AM.
Na segunda-feira (20), o
chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes
da Superintendência Regional da Polícia
Federal no Maranhão, Rodrigo de Sá
de Oliveira, afirmou que vai procurar a Funai
esta semana para iniciar a operação
em breve.
A ação está
sendo planejada com base em relatório
do Grupo Tático Aéreo (GTA),
que é ligado à Secretaria de
Segurança Pública do estado.
Mércio Gomes afirmou que, assim que
chegar a Funai, o pedido da Polícia
Federal será analisado pela área
jurídica.
"Em geral, quando esses
entorpecentes são descobertos para
efeito de tráfico, a Polícia
Federal vai e destrói sim. Mas se é
para uso pessoal - em alguns casos, os índios
guajajara usam maconha desde a época
da escravidão – a Funai não
objeta isso de forma alguma, nem as leis brasileiras",
explicou.
De acordo com o coordenador
do GTA, Laércio Gomes Costa, a estimativa
é de que haja cerca de 200 mil pés
de maconha nas áreas identificadas
no relatório. Segundo ele, estão
envolvidos na produção índios
e não índios.
O presidente da Funai considerou
a quantidade elevada para o consumo dos índios:
"Duzentos 200 mil pés de maconha
não pode ser para consumo. Certamente
que nós vamos tomar a decisão
legal que caiba nesse caso".
De acordo com o integrante
do Conselho de Articulação dos
Povos Indígenas do Maranhão
(Coapima) José Arão Lopes, da
etnia Guajajara, não índios
entram em áreas indígenas, principalmente
no Maranhão, e plantam maconha porque
sabem que o acesso da polícia a essas
áreas depende de autorização
da Funai.
"Os não indígenas,
os brancos, que muitas vezes são casados
com as índias, aproveitam essa dificuldade
de acesso das autoridades dentro da aldeia
e fazem esse tipo de comercialização,
plantando e, inclusive, traficando. Utilizam
o nome do índio e até se classificam
como índios para descaracterizar esse
processo. Infelizmente, isso acaba complicando
para o indígena".
José Arão
Lopes disse ainda que é comum os guajajaras
usarem a maconha nos seus rituais, principalmente
nos trabalhos de cura, mas não para
fins de comercialização.