Curitiba, 22 de março
de 2006 — Os serviços prestados pelo
ambiente são fundamentais para o bem-estar
humano e constituem a base da Avaliação
Ecossistêmica do Milênio, realizada
pela ONU a partir de 2001 e cujos resultados
devem subsidiar decisões governamentais
em relação ao uso dos recursos
naturais do planeta. Dentre esses serviços
pode ser destacado o processo de polinização,
desempenhado pelo vento e pela água,
mas principalmente por animais, entre os quais
destacam-se as abelhas.
O papel das abelhas polinizadoras
do Brasil é o tema central da publicação
“Bees as pollinators in Brazil – assessing
the status and suggesting best practices”
(em português: Abelhas polinizadoras
no Brasil – investigando o status e sugerindo
as melhores práticas) que foi lançada
hoje em evento na COP8, em Curitiba.
Impacto na biodiversidade
- A polinização é o transporte
dos grãos de pólen (gametas
masculinos) de uma flor para o estigma (parte
feminina) de outra flor, resultando em frutos
de melhor qualidade e com maior número
de sementes. Dessa forma, é fácil
deduzir a importância de seu impacto
na biodiversidade de áreas naturais.
Várias espécies importantes
de nossas matas (castanha do Brasil, guaraná,
açaí, cupuaçu, sapucaia,
mogno entre centenas de outras espécies)
dependem da polinização para
produzir os seus frutos. Entre as oleaginosas,
o dendê necessita de polinização,
realizada por besouros. Na agricultura, há
aquelas plantas nas quais a polinização
é essencial para a produção
de frutos (melão, por exemplo) e outras
como café, caju, maracujá, tomate
e morango que se beneficiam da visita dos
polinizadores para uma safra de qualidade.
Valor econômico
– O serviço ambiental prestado pelos
polinizadores atua como uma alavanca na produtividade
dos cultivos agroflorestais e em estufas manejadas,
acarretando em vantagens econômicas.
Em Minas Gerais, por exemplo, o café
plantado perto de áreas de floresta,
com presença de polinizadores, rende
14,6% a mais de frutos (de melhor qualidade),
do que uma cultura de café sem os trabalhos
dos polinizadores, o que equivale a um valor
agregado de US$1.860,00 ou R$ 3.960,00/hectare
ao ano. Pesquisas na Costa Rica também
demonstraram as vantagens da agricultura sustentável.
Os serviços dos polinizadores no café
em uma fazenda com dois pequenos fragmentos
de 46 a 111 hectares resultaram em um acréscimo
de US$60 mil ao ano.
Gustavo Fonseca, vice-presidente
executivo da Conservação Internacional,
ONG que apóia a publicação,
afirma que o livro sintetiza o estado da arte
na questão da polinização
por abelhas no Brasil. “A polinização
é um dos serviços ambientais
ligados à biodiversidade que mais se
relaciona à conservação
das espécies. É o mais fácil
de ser mensurado e compreendido, por se tratar
da interferência direta de uma espécie
na manutenção de um serviço
ambiental”.
A produtividade dos pomares
comerciais de maracujá no Brasil aumentou
de 9 mil kg/ha em 1998 para 13.500 kg/ha,
em 2004. “Entretanto, isso ainda está
longe dos 40 mil a 45 mil kg/ha que se poderia
alcançar caso houvesse a polinização
e irrigação adequadas”, explica
Vera Lúcia Imperatriz, professora da
USP e editora do livro.
O Brasil teve atuação
importante na Convenção da Diversidade
Biológica ao enfatizar o aspecto do
papel dos polinizadores na diversidade agrícola.
Após uma reunião internacional
realizada em São Paulo em 1998, foi
preparada a Declaração de São
Paulo sobre o uso sustentável e a conservação
dos polinizadores, que, submetida à
COP5, transformou-se na Iniciativa Internacional
dos Polinizadores (IPI, sigla em inglês).
A FAO (Organização
das Nações Unidas para a Agricultura
e a Alimentação) foi escolhida
pela ONU para atuar como facilitadora dessa
iniciativa, que atualmente conta com o maior
número de acessos. Tem o apoio da IABIN
(Interamerican Biodiversity Information Network),
do GBIF (Global Biodiversity Information Facility),
da Comunidade Européia e diversas agências
internacionais, sendo considerada importante
tema transversal aos programas de biodiversidade.
Iniciativa dos polinizadores
- A COP6 aprovou o plano de ação
para 10 anos para a IPI e desde então
já se organizaram várias iniciativas
regionais, utilizando o modelo estabelecido
na Declaração de São
Paulo. No Brasil, a Iniciativa Brasileira
dos Polinizadores formou-se com a integração
de cientistas de todo o país, apoiados
pelo Ministério do Meio Ambiente, Ministério
da Ciência e Tecnologia, com o auxílio
da FAO, para discussão de metodologias
padronizadas visando à avaliação
e ao monitoramento do declínio dos
polinizadores.
“Em um país megadiverso
como o nosso, conhecemos pouco sobre as 3.000
espécies de abelhas que aqui ocorrem
e sobre as plantas polinizadas por morcegos,
moscas, besouros e aves”, aponta a professora
Vera. “O impedimento taxonômico existe,
e precisamos implementar nossas coleções
regionais e nossas bases de dados de interações
entre animais e plantas”.
O livro
“Bees as pollinators in Brazil – assessing
the status and suggesting best practices”
está disponível para venda no
site da Holos Editora: www.holoseditora.com.br