28/03/2006 - Pinhais
(Paraná) – Ambientalistas reunidos
hoje (28) no debate "As muitas encruzilhadas
da CDB [Convenção sobre Diversidade
Biológica]" questionaram a eficácia
desse acordo internacional sobre meio ambiente
e também do seu órgão
deliberativo – a chamada COP-8, ou 8ª
Conferência das Partes da Convenção
sobre Diversidade Biológica.
"Eu tenho a sensação
de que somos crianças brincando no
parquinho, enquanto os adultos decidem em
outro lugar", lamentou a consultora da
organização não governamental
WWF-Brasil, Nurit Rachel Bensusan. A professora
de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB), Cristina
Inoue, é da mesma opinião. "Passei
anos tentando entender como funciona a CDB,
para descobrir que as decisões importantes
acontecem na OMC [Organização
Mundial de Comércio]. Será que
não é perda de tempo? Será
que eu não deveria tentar entender
a OMC, influenciar seu processo?", disse.
"Os ministros do Meio
Ambiente concordam em muitos pontos. Mas é
mais difícil entre eles chegarem a
um acordo entre si do que com os ministros
da Agricultura e do Desenvolvimento de seus
próprios países", argumentou
a militante Christine Von Weizsnacker, que
há 40 anos acompanha os debates internacionais
sobre meio ambiente. "O que temos aqui
são ministros fracos negociando".
As principais críticas
feitas à COP-8 foram sobre o sistema
de decisões por consenso, que produziria
como resultado textos fracos, frutos de muitas
concessões; o sistema de financiamento
pelo Fundo Global do Meio Ambiente (GEF, na
sigla em inglês), que não garante
o repasse suficiente de recursos dos países
ricos para os megadiversos; a falta de prazos
e metas nos programas de trabalho. O Programa
de Áreas Protegidas, criado em 2002,
seria a única exceção.
"Nossos avanços
são fracos. Foi preciso muita mobilização
apenas para manter a proibição
de pesquisas de campo com terminators [sementes
estéreis, geneticamente modificadas
]. E a discussão sobre o regime internacional
[de acesso a recursos genéticos e benefícios
compartilhados] ainda é sobre se o
relatório de Granada [produzido pelo
grupo de trabalho permanente da CDB que discute
o tema, em fevereiro deste ano] deve ou não
ser adotado como ponto inicial dos debates",
criticou Bensusan. "Aqui existe uma inércia
difícil de ser quebrada: papel, reunião,
papel e mais reunião".
"A gente precisa aprender
a reduzir nossas expectativas e aproveitar
melhor a potencialidade dos nossos encontros.
As redes de solidariedade e troca de informações
funcionam", ponderou Von Weizsnacker.
O debate As Muitas Encruzilhadas
da CDB é parte de um conjunto de discussões
promovidas pelo ISA, dentro do Fórum
Global da Sociedade Civil – em uma tenda montada
no estacionamento do local onde a COP-8 está
acontecendo. O evento foi ironicamente batizado
de Coptrix, uma referência ao filme
Matrix, que fala sobre a virtualidade das
relações sociais contemporâneas.
"Nem todo mundo pode entrar na COP, mas
é bom ver que há intelectuais
importantes que saem dela e vêm falar
conosco", afirmou o militante ambientalista
José Pedro Naisser.