Curitiba
(30/03/2006) - Mesmo com grande potencial
econômico, o Pampa não tem conseguido
extrair das suas atividades produtivas toda
riqueza que poderia nem distribuí-la
de modo equânime.
A chamada Metade Sul do
estado, dominada pelo bioma, reúne
103 municípios e 25% da população
gaúcha - cerca de 2,5 milhões
de habitantes, segundo o Censo de 2000. Mesmo
assim, e mesmo concentrando extensas propriedades,
com 80% delas em área igual ou superior
a 500 hectares, a Metade Sul produz apenas
16% do Produto Interno Bruto (PIB) do estado.
A região, que também padece
da especulação financeira e
imobiliária, não tem alcançado
melhores resultados embora tenha contado com
investimentos públicos em infra-estrutura,
possuindo estradas asfaltadas, portos, hidrovias,
ferrovias, quatro universidades, inclusive
a Universidade do Pampa, em fase de implantação.
As causas da depressão
econômica são complexas, o que
impõe ao Poder Público e aos
segmentos econômicos e da sociedade
a busca de soluções discutidas
e negociadas. Algumas delas: a concentração
de atividades produtivas quase exclusivamente
no setor primário (mais especificamente
nas culturas anuais); a aparente apatia e
falta de resposta da pecuária, que,
mantendo certo conservadorismo, carece de
maior verticalização, avanços
tecnológicos e melhoria nos processos
de gestão da cadeia produtiva e dos
empreendimentos; a não consideração
de outras possibilidades de geração
de riqueza, pródigas na região,
como a fruticultura e o turismo ecológico,
histórico e paisagístico, que
valorizam a terra e o homem.
Poderá se configurar
um equívoco contraproducente, por exemplo,
querer explorar a região com a prática
de plantações extensivas da
monocultura de árvores exóticas
para produção de papel. Os danos
ambientais e aos aspectos históricos
e paisagísticos da região não
compensariam tal mudança na matriz
desenvolvimentista da região. Além
disso, tal “solução” entraria
em conflito com atividades atuais de sucesso
econômico e de grande contribuição
ao PIB local, como é o caso da carne
e do arroz. Vale lembrar que, pela qualidade
de seus pastos, o Rio Grande do Sul é
o único estado a exportar carne bovina
dentro da Cota Hilton. Se o eucalipto tomar
o lugar dos campos, o chamado “boi verde”
perderia ainda mais espaço no mercado
internacional – a região já
perdeu o posto de uma das mais importantes
do mundo na produção pecuária
e de lã. Por outro lado, estudos comprovam
que o eucalipto, de raízes profundas,
suga grande parte do lençol freático,
prejudicando inclusive a cultura de arroz
irrigado, que requer água em abundância
e que mantém o estado como maior produtor
deste cereal.
Apesar da baixa capacidade
de geração de empregos e do
alto custo para gerá-los, a monocultura
de árvores exóticas está
sendo sugerida por alguns setores como alternativa
para o desenvolvimento regional sustentável.
Porém, a sustentabilidade não
pode e não deve ser analisada apenas
pela dimensão econômica. Ações
para o desenvolvimento sustentável
devem considerar as dimensões: social
(reduzindo as desigualdades sociais); ecológica
(melhorando a qualidade do meio ambiente,
de modo a garantir a preservação
às próximas gerações);
cultural (evitando conflitos e menosprezo
das minorias étnicas); econômica
(aumentando o poder aquisitivo da comunidade
local) e geográfica (evitando a aglomeração
em centros urbanos).