Curitiba
(30/03/2006) - Vários problemas ambientais
ainda afetam o Pampa, alguns deles consolidados
e “absorvidos” pela dinâmica do ambiente.
Recentemente, o avanço descontrolado
das plantações de soja, principalmente
transgênica, reiniciaram a prática
lenta, mas danosa da conversão de matas
e campos nativos em terrenos agrícolas,
reduzindo os habitats para fauna e flora,
com o conseqüente empobrecimento dos
solos e da biodiversidade pelo uso abusivo
de maquinários, agrotóxicos
e corretivos agrícolas.
A descaracterização
da fisionomia e da dinâmica natural
do Pampa reduz o espaço dos campos
naturais e amplia a degradação
pelo uso de herbicidas. Muitas vezes o cultivo
do arroz ocorre com a drenagem de banhados
(charcos), essenciais à reprodução
e à alimentação de várias
espécies. Usam muita água, prejudicando
banhados, rios e ictiofauna, competindo com
outras atividades que dependem destes recursos,
como, por exemplo, a pesca.
Se por um lado a pressão
econômica do mercado tem levado pequenos,
médios e grandes produtores a migrarem
para a soja, por outro cresce o número
de proprietários de terra decididos
a aderir ao cultivo de florestas de pinus
e eucaliptos para produção de
papel. Duas empresas multinacionais do setor
adquiriram ou arrendaram milhares de hectares
no Pampa, aumentando a concentração
da terra. Além de alterar a paisagem
e a biodiversidade regional, as novas monoculturas
(incluindo a expansão da soja) poderão
causar impactos graves no sistema hídrico,
já que, como se disse, aquelas árvores
absorvem água em maior quantidade do
que os pastos, podendo prejudicar não
só a cultura irrigada do arroz, mas
também o capim-alimento do gado e,
conseqüentemente, a qualidade da carne.
Outro problema grave é
a infestação do pampa com espécies
exóticas, em prejuízo da biodiversidade.
A introdução dessas espécies
no Pampa, a maioria gramíneas, começou
em 1960, quando, para alimentar os rebanhos
no inverno rigoroso, o governo gaúcho
passou a importar pastagens para substituir
cotas de campo “mortas pelo frio”.
Annoni - O governo estadual
começou a fazer testes com diversas
gramíneas e leguminosas forrageiras
exóticas, entre elas o capim de Rhodes
(Chloris gayana Kunth). Sem qualquer estudo,
as sementes seguiram para a estação
experimental do município de Tupanciretã,
no centro do estado. O restante foi para a
região de Uruguaiana, na fronteira
com a Argentina. Desconhecia-se, no entanto,
que a essas sementes estava misturada outra
gramínea, identificada posteriormente
como Eragrostis Plana Nees (ou capim-Annoni).
Dominante e de fácil proliferação
e resistência, embora de baixíssimo
teor nutritivo e difícil digestão
pelo gado, o capim-Annoni avança sobre
o campo, modificando as características
dos campos gaúchos. Em 78, a produção
de sementes do capim foi proibida. Mas era
tarde. Segundo a Empresa Brasileira de Pecuária
e Agricultura (Embrapa Clima Temperado, de
Bagé/RS), o Annoni infesta 500 mil
hectares do RS, além de outras regiões
do País.
O quadro, no entanto, é
ainda mais grave. Apesar de atualmente o Brasil
dispor de normas legais capazes de limitar
a empestação dos biomas nacionais
com espécies estranhas ao meio nativo,
o controle deste processo é difícil,
por causa das dimensões continentais
do Brasil. Neste cenário, espécies
invasoras e impactantes continuam a causar
danos ambientais, econômicos e sociais
imensuráveis. E outras espécies
exóticas continuam a invadir o Pampa,
como uva-do-japão, acácia–negra,
capim-braquiária, tojo, pinus, e animais
como javali, lebre européia, bagre-africano,
catfish (bagre-do-canal), tilápia-do-nilo,
causando degradação e desequilíbrio
ambiental.
A região sofre ainda
um processo de “arenização”
do solo. O fenômeno, conhecido como
“deserto de Alegrete”, pode ser verificado
no sudoeste do RS, onde o Pampa avança
para a Argentina e o Uruguai. A arenização
afeta mais duramente dez municípios,
entre eles Alegrete, Uruguaiana, Quaraí,
Itaqui e, principalmente, São Francisco
de Assis. O problema teria se intensificado
pela mobilização intensa do
solo por máquinas agrícolas,
com a expansão da soja sobre solos
rasos e frágeis, com a transformação
de pastagens naturais em áreas de monocultura
e em áreas de pecuária de alta
rotação, com excessivo pisoteio
do gado.
Outros problemas - O Pampa
sofre diariamente com outras ameaças
à sua integridade. São elas:
as queimadas; a caça e a pesca ilegais;
barragens para irrigação de
plantações, que interrompem
cursos de água e deslocamento da fauna;
pulverização da mata nativa
das Áreas de Preservação
Permanente (nascentes, matas ciliares e banhados)
e dos recursos hídricos com agrotóxicos
(herbicidas, fungicidas e inseticidas), aplicados
nas lavouras por aviões; mortandade
de aves, de peixes e de outros animais pela
ingestão de agrotóxicos; drenagem
de banhados, nascentes de córregos
e sangas; desvio de cursos d’água para
abastecimento de propriedades rurais; mortandade
de alevinos de peixes (filhotes) e de peixes
pequenos, causada pela sucção
de bombas de irrigação de arroz.