07/04/2006
- Brasília - A expansão de plantações
de soja é uma das principais causas
do desmatamento da Amazônia e representa
a mais séria ameaça ao futuro
da região. A conclusão está
no relatório "Comendo a Amazônia",
elaborado pela organização não-governamental
Greenpeace Internacional, com sede na Holanda.
De acordo com o estudo, na safra de 2004,
cerca de 1,1 milhão de hectares de
florestas foi convertido em plantações
de soja.
Segundo a organização
ambientalista, "as vilãs da indústria
da soja brasileira" são três
multinacionais norte-americanas do setor do
agronegócio: a Cargill, a Bunge e a
Archer Daniels Midland (ADM). O estudo relaciona
as empresas ao desmatamento, à grilagem
de terras e ao trabalho escravo na Amazônia.
"Essa expansão
tem um preço não apenas para
a floresta, mas para as populações
indígenas e comunidades tradicionais,
que são expulsas de suas terras para
dar lugar à soja, e para milhões
de pessoas que são enganadas e forçadas
a trabalhar na derrubada da floresta",
destaca a versão em português
do relatório.
De acordo com o relatório,
essas empresas "agem como imã
para atrair novos produtores para a Amazônia".
Além de serem grandes compradoras,
as três empresas juntas são responsáveis
por pelo menos 60% de todo o financiamento
da produção de soja no país.
As multinacionais forneceriam
desde sementes e fertilizantes até
a infra-estrutura necessária ao armazenamento
e transporte da soja. No caso da Cargill,
por exemplo, o relatório mostra que,
para facilitar o escoamento da produção,
a empresa construiu um porto em Santarém,
no valor de US$ 20 milhões. A organização
ambientalista destaca que a obra foi feita
sem que a multinacional realizasse os estudos
de impacto ambiental previstos na Constituição
brasileira e, por isso, foi questionada na
Justiça pelo Ministério Público
Federal em Santarém (PA).
"Elas [as empresas]
não apenas impulsionam a expansão
da soja, mas fecham também elos importantes
na cadeia da destruição ilegal
da floresta, grilagem de terras e trabalho
escravo, tornando a soja produzida na Amazônia
extremamente barata para consumidores europeus,
e dispendiosa para todos os outros",
conclui o texto.
O estudo também destaca
que, nos últimos anos, o governo brasileiro
adotou medidas importantes para combater o
desmatamento na Amazônia e a exploração
ilegal de madeira. Mas alerta que, ao mesmo
tempo, o avanço da soja surgiu como
uma "poderosa ameaça de destruição
da floresta".
O relatório é
resultado de uma investigação
sigilosa feita durante dois anos, nas regiões
de produção e consumo de soja.
Foram feitas análises de imagens de
satélite, investigações
de campo, sobrevôos, entrevistas com
comunidades afetadas e representantes da indústria
e políticos e monitoramento de navios
cujo destino era o mercado internacional.