Manaus
- A técnica milenar de extração
artesanal do óleo da andiroba está
ameaçada. As mulheres extrativistas
do Pará, guardiãs desse conhecimento,
acusam as empresas de cosméticos de
promover uma concorrência predatória.
De acordo com elas, as empresas
compram grandes quantidades de andiroba da
mão de grileiros, que fazem a coleta
sem planejamento. Com isso, o número
de frutos disponíveis teria diminuído,
tornando ainda mais difícil a utilização
da amêndoa pelas comunidades tradicionais,
seja para fins terapêuticos ou comerciais.
"As empresas geralmente
compram mesmo é andiroba bruta, elas
pagam R$ 20 pela tonelada da amêndoa.
A gente fica sem matéria-prima para
trabalhar e sem ter como concorrer no mercado",
contou hoje (7) a presidente da Cooperativa
Ecológica de Mulheres Extrativistas
de Marajó (Cemem), Edna Marajoara,
em entrevista ao programa Ponto de Encontro
, da Rádio Nacional da Amazônia
.
"A Ilha de Marajó
é uma área de proteção
ambiental, são terras da União,
mas aqui está cheio de grileiros. Com
o eco-marketing, eles cresceram o olho sobre
as andirobeiras - e nossas mulheres são
obrigadas a coletar a amêndoa dos frutos
que caem nos rios, apenas. Tem faltado material
para extrair o óleo que usamos na pele
(para cicatrização), no xarope,
nas compressas e no cabelo, para matar caspa
e piolho."
Segundo Edna Marajoara,
quando as empresas de cosméticos compram
o óleo em vez da andiroba bruta, elas
dão preferência ao óleo
extraído por meio de prensa (sistema
mecânico), pagando R$ 5 pelo litro,
metade do valor (R$ 10) pelo qual é
vendido o óleo artesanal. Cada 100
quilogramas de amêndoa produz 20 litros
de óleo de andiroba, no modo artesanal.
No sistema mecânico, seriam 70 litros.
Diante da desvantagem produtiva,
cerca de 200 mulheres extrativistas paraenses
montaram uma cooperativa há cinco anos.
Hoje, elas estão com mil e cem litros
do óleo da andiroba estocado, sem ter
a quem vender.
A assessora técnica
da cooperativa, Thaíssa Pinheiro, explica
que, pelo modo artesanal, a produção
acontece apenas durante parte do ano, quando
os frutos amadurecem, entre dezembro e abril.
"É um processo
lento, manual. Durante 15 dias, a polpa da
andiroba fica descansando na sombra, embrulhada
em folha de bananeira. Depois, é colocada
em uma espécie de funil de madeira,
para escorrer o óleo", revelou
Pinheiro.
Para otimizar esse processo,
a cooperativa elaborou um projeto para a construção
de uma usina em pequena escala. Por meio dela,
as mulheres poderiam fazer sabonete com o
óleo extraído. O custo do empreendimento
está calculado em R$ 100 mil.
A comunidade aguarda parecer
dos professores da Universidade Federal do
Pará para enviar a proposta ao Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome. A presidente da cooperativa de mulheres
extrativistas reivindica apoio governamental
para que o modo de produção
artesanal seja preservado.
"Em março, na
COP ( Conferência das Partes da Convenção
sobre Diversidade Biológica, em Curitiba),
a gente colocou um cartaz dizendo que queríamos
ser tratadas como animais em extinção",
lembrou Marajoara. "O governo tem programas
para peixe-boi, para a floresta. Por que não
há uma política pública
para as mulheres andirobeiras?"