Brasília –
As comunidades indígenas devem ser
tuteladas pelo Estado brasileiro ou devem
ter autonomia política? Mesmo morando
na cidade, o índio deve manter seus
direitos e sua identidade? Essas são
as duas principais perguntas que as 800 pessoas
presentes à Conferência Nacional
dos Povos Indígenas querem responder.
A questão da tutela,
segundo o índio Caboquinho Potiguara,
um dos organizadores do evento, é um
dos pontos mais polêmicos. "Muitos
ainda entendem a tutela como sendo um dever
do Estado". Segundo ele, outros já
não tem essa opinião e preferiam
que as aldeias fossem autônomas politicamente
em relação ao Estado brasileiro.
No debate sobre a identidade
civil, Potiguara afirma que os indígenas
querem esclarecer melhor essa relação.
"Saber até onde vai a proteção
ao índio; se ela é igual para
todos ou só para os índios que
vivem nas aldeias".
"Não interessa
se os índios vivem na cidade ou não.
Eles nunca vão deixar de ser índios,
desde que eles se reconheçam como tal",
considera Maria Helena Paresi, da liderança
indígena de Mato Grosso.
Já o índio
Pirakuman Yawalapiti, da liderança
do Xingu, avalia alguns índios urbanos
estariam tomando a frente das comunidades
indígenas sem autorização.
"Muitos deles não conhecem mais
a realidade dos índios que vivem nas
aldeias", explica.
Por essa razão, Maria
Helena Paresi acredita ser preciso tratar
o assunto com cuidado, "para que os índios
das aldeias não sejam afetados".Para
o presidente da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Mércio Pereira,
parece haver uma tendência em dizer
que índio é aquele que pertence
a um povo ou uma etnia. "Índio
não é cor, nem pele, nem Dna,
é um sentimento de pertencimento. Essas
discussões são importantes pois
esclarecerão muito da política
indigenista brasileira, da atitude que o Brasil
deve ter com os povos indígenas"
Os 800 representantes dos
povos indígenas que participam da Conferência
estão reunidos em 10 grupos de trabalho
para chegarem a consenso sobre as propostas
apresentadas e discutidas ao longo do encontro.
Os grupos são divididos de acordo com
o seguintes temas: autonomia, território,
educação, saúde e índios
urbanos.