18/04/2006 - Para
encontrar formas de sobreviver aos ataques
dos inimigos, as plantas adotam mecanismos
eficientes. Algumas possuem sistemas simples,
enquanto outras, como, por exemplo, a vitória-régia
(Victoria amazonica), desenvolvem verdadeiras
adaptações ecológicas
que mais parecem um sistema anti-guerra.
O trabalho de mestrado “Aspecto
do Desenvolvimento Foliar, Morfologia da Flor,
Fruto, Semente, Plântula e Germinação
da Victoria amazonica”, elaborado pela pesquisadora
Sônia Maciel da Rosa Osman, do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT),
apresenta alguns desses aspectos curiosos
das adaptações ecológicas
da planta nesse ambiente inóspito.
Sônia Osman explicou
que a vitória-régia é
uma planta típica da região
Norte e faz parte da cultura dos caboclos.
“A planta é encontrada em lago de igapó
(águas pretas ou claras), como o Aninga,
localizado no município de Parintins,
e em lago de várzea (águas brancas
ou barrentas), como o da Felicidade, localizado
em Manaus”, afirmou.
Segundo a pesquisadora,
ao observar a planta flutuando pelo lago,
um turista ou caboclo da região não
imagina como isso é possível.
Sônia explicou que no interior da folha
existem diversas células em forma de
estrela (esclereide) que ligam a parte inferior
à superior, além de permitir
que os tecidos contendo ar (aerênquima)
circulem por dentro, impedindo que ela afunde.
Ou seja, funciona como um emaranhado de orifícios
em um isopor, facilitando a “circulação
do ar” por dentro dos tecidos.
Para se proteger, a planta
é cercada por dezenas de espinhos.
Eles funcionam como uma muralha ao redor de
sua raiz (no formato de bulbos ou batatas
fincada no fundo do lago), de onde sai uma
espécie de tendão (pecíolo).
Ele também tem o papel de transportar
o alimento até a folha. Seu tamanho
varia de três a oito metros de comprimento,
conforme o nível das águas.
“O pecíolo é flexível.
Ele impede que a folha se separe de sua raiz
durante uma tempestade. É como se dentro
dele existisse um elástico”, explicou.
Sônia Osman contou
que os espinhos não são encontrados
somente no pecíolo. Ela disse que quem
já teve a oportunidade de segurar uma
vitória-régia nas mãos
sentiu a presença deles na parte inferior.
Nesse caso, eles têm duas funções.
A primeira, evitar que a folha seja devorada
por animais aquáticos. A segunda, impedir
que a folha fique em contato direto com água,
caso contrário, o aspecto dela não
seria nada agradável. Um outro parceiro
dos espinhos nesse mesmo processo são
os micro-pêlos que funcionam como impermeabilizantes.
Mesmo vivendo em ambiente
aquático, a folha da vitória-régia
tem mecanismos que evitam que a água
fique permanentemente sobre a superfície.
Ela possui mais de 11 canais por cm².
Eles funcionam como canais auxiliares no escoamento
da água residual da chuva para o lago.
Além disso, existem duas fendas laterais
para ajudar na saída da água,
por meio de uma calha que fica no centro da
folha. Segundo a pesquisa, a folha é
cercada por bordas laterais (de 2 a 12 cm
de altura) que impedem o refluxo da água
do lago. “Dessa forma ela mantém-se
sempre bela”, ressaltou.
O projeto foi desenvolvido
em parceria com o Instituto Max-Planck de
Limnologia, cuja sede é na Alemanha,
mas que há mais de 35 anos conta com
uma base de pesquisas no Inpa. O trabalho
teve início em 2004 e foi defendido
recentemente. Contou com o financiamento do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq/MCT) e da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
(Fapeam).