Brasília (27/04/2006)
- O Projeto Quintas Ambientais trouxe na manhã
de hoje à sede do Ibama, o engenheiro
Luiz Gylvan Meira Filho,
professor do Instituto de Estudos Avançados
da USP. Em sua palestra, o professor defendeu
que, por menor que seja a emissão de
poluentes de um determinado país, ele
não pode se eximir da responsabilidade
de mitigar os efeitos do aquecimento global.
Meira Filho é uma
autoridade do assunto. Ex-presidente da Agência
Espacial Brasileira, foi um dos negociadores
do Protocolo de Kyoto. É dele a idéia
de repartir as responsabilidades no aquecimento
global pela quantidade de gases que cada país
emite.
O evento foi aberto pelo
presidente do Ibama, Marcus Barros, que elogiou
a formação sólida de
Meira Filho. Para Barros o professor é
um “orgulho da academia brasileira”.
Didática, a palestra
abordou o problema do efeito estufa pela ótica
da física, mas não deixou de
fora os aspectos éticos e econômicos.
Segundo ele o Brasil, que tem 3% da população
mundial, é responsável por 3,5%
das emissões de poluentes (Os Estados
Unidos emitem 40%), “mas isso não exime
o Brasil das responsabilidades quanto à
mitigação das conseqüências”
afirma.
CO2 - Na exposição,
Meira Filho apresentou os principais gases
que, pela atividade humana, têm se acumulado
na atmosfera, provocando o aquecimento do
planeta. O mais problemático deles,
segundo o professor, é o CO2, que,
ao ser liberado no ar, acumula-se na atmosfera
e tem pouca capacidade de dissipação.
Com isso, vai sendo formada uma camada densa
desse gás em redor da Terra, formando
uma estufa em seu interior.
Contestada por alguns, desde
de que foi publicada, em 1977, essa teoria
tem, no entanto, ganhado força nos
últimos anos. Segundo o professor “já
há comprovação científica
de que está havendo acumulação
de CO2 na atmosfera”.
Dados coletados pelo observatório
de Mauna Loa, no Havaí, ligado à
Universidade da Califórnia, mostram
que, em 1960, havia na atmosfera uma concentração
de Dióxido de Carbono na ordem de 320
partes por milhão. Em 2005 - 45 anos
depois - a concentração subiu
para 380 partes. Veja gráfico abaixo:
Essa concentração,
segundo o professor, é causada diretamente
pela ação do homem, tanto na
queima de combustível fóssil,
como em incêndios florestais - entre
outras atividades.
O professor explicou ainda
que esse aquecimento concentra-se menos na
terra do que nos oceanos, uma vez que o aquecimento
na primeira é superficial, enquanto
no segundo a perda de calor acontece em menor
escala. “Isso sugere que os recentes furacões
que observamos em Santa Catarina e no Caribe
podem estar, sim, ligados ao aquecimento global”.
Curiosidade – Entre os pontos
que chamaram a atenção na palestra
de Meira Filho, uma curiosidade pode gerar
bastante discussão nos estudos sobre
a relação da Floresta Amazônica
com as mudanças climáticas.
Segundo o professor – por
dedução lógica – se houver
maior oferta na atmosfera de CO2 (gás
utilizado pelas árvores para seu crescimento),
maior será o desenvolvimento delas.
E, realmente, estudos laboratoriais têm
comprovado essa tese: plantas confinadas a
ambientes enriquecidos com CO2, apresentam
um desenvolvimento maior que o normal.
Então, se aumentarmos
a queima de combustível fóssil,
teremos uma floresta amazônica maior,
mais densa?
Disso Meira Filho não
está bem certo. “Talvez um crescimento
mais rápido das árvores, quem
sabe...” Uma coisa é um experimento
fechado em laboratório; outra é
a realidade a céu aberto, onde inúmeras
variáveis atuam no sistema.
O fato, segundo ele, é
que o planeta está aquecendo e ainda
ninguém encontrou a solução.
A discussão está sendo travada
num campo econômico, e muitas vezes,
a parte ética fica de fora. Para Meira
Filho, economicamente, é difícil
de calcular o preço de um beneficio
que virá em 40 anos, mas, se levarmos
para o campo ético, veremos a importância
de se distribuir responsabilidades.
Meira Filho foi um dos especialistas
que, nas discussões do protocolo de
Kyoto, apresentaram a idéia segundo
a qual os esforços de cada país
teriam que ser medidos pela quantidade de
poluentes emitidos. A idéia pegou.
Hoje, nos fóruns de discussão,
esse tema está sempre presente. “Isso,
como bem diz a ministra Marina Silva não
significa que compartilhar responsabilidade
é não ter responsabilidade alguma”,
finaliza.
Quintas Ambientais – O Programa
“Quintas Ambientais” é um projeto da
Assessoria de Comunicação do
Ibama/Sede, realizado quinzenalmente, no auditório
do Instituto, em Brasília, e é
aberto à comunidade. O próximo
painel está marcado para o dia 25 de
maio. Maiores informações pelos
telefones: (61) 3316.1015 ou 9994.9025 ou
no email: ascom.sede@ibama.gov.br.