Brasília
– O Brasil consumiu em 2005 cerca de R$ 10
bilhões em agrotóxicos, segundo
o Sindicato Nacional das Industrias de Defesa
Agrícola. Com o ritmo de crescimento
da agricultura brasileira, o desafio é
saber como os órgãos públicos
acompanham a fiscalização da
utilização de veneno em larga
escala.
Segundo o professor César
Koppe Grisólia, do Departamento de
Genética e Morfologia da Universidade
de Brasília (UnB), existe um descompasso
nessa relação. "Os órgãos
de fiscalização não têm
uma estrutura que acompanhe a expansão
das fronteiras agrícolas. Tem ocorrido
uma fiscalização, mas muito
aquém do problema do uso do agrotóxico
no Brasil."
Autor do livro Agrotóxicos:
mutações, câncer e reprodução,
Koppe explica que são três os
órgãos públicos responsáveis
pela fiscalização nacional dos
agrotóxicos. Compete ao Ministério
da Agricultura a fiscalização
do uso agrícola adequado dos agrotóxicos.
Ao Ministério da Saúde e à
Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) cabem a questão
de saúde ocupacional do trabalhador
e da exposição humana ao veneno.
O Ministério do Meio Ambiente e seu
órgão executivo, o Ibama, são
responsáveis pela questão dos
impactos ambientais e efeitos sobre os meio
ambiente.
Segundo o pesquisador, a
maioria dos agrotóxicos faz algum mal
para a saúde: pode ser neurológico,
reprodutivo, ou até causar câncer.
"Nem todos causam câncer, mas aumentam
o risco de causar câncer", disse.
A contaminação crônica
por agrotóxico por inalação
pode levar em longo prazo a problemas pulmonares
como a fibrose pulmonar. A intoxicação
crônica por inseticidas tipo organofosforados
pode levar mais tarde a pessoa a desenvolver
uma espécie de mal de Parkinson, com
tremedeiras, com efeitos neurológicos.
"Dependendo do tipo de agrotóxico,
você vai ter um tipo de lesão
no organismo, característico da molécula
de agrotóxico", explicou.
Existem estudos mostrando
que determinadas formulações
de agrotóxico causam alterações
até no material genético. "Nós
trabalhamos aqui na Universidade de Brasília
com pesquisas sobre os efeitos dos agrotóxicos
sobre os peixes. Nos peixes, os agrotóxicos
alteram as células sanguíneas,
modificam o formato dos glóbulos vermelhos,
alteram o comportamento natatório e
provocam mortalidade", acrescentou.
Ele alertou que "se
os peixes estiverem contaminados com inseticidas
organoclorados que se acumulam nos organismos
aquáticos, essa contaminação
pode ser transmitida ao homem que consome
o peixe contaminado".
Para ele, a pulverização
de agrotóxicos causa muitas perdas
para o meio ambiente: "Através
da nuvem de agrotóxico que se espalha
além do campo da agricultura, as pessoas
se contaminam por meio da ingestão
de água, pela pele e através
da respiração de partículas
de agrotóxicos no ar. O excesso de
agrotóxicos nos alimentos deixa resíduos
na casca ou em produtos que são consumidos
in natura como as folhas verdes. A pele é
muito permeável aos agrotóxicos
que entram e atingem a corrente sanguínea
causando dores de cabeça, tremores,
intoxicação intestinal e no
fígado".