26.04.2006 - Belém
(PA) - Mais um dos acusados do assassinato
da missionária Dorothy Stang, Amair
Feijoli da Cunha, o Tato, foi considerado
culpado pelo Tribunal de Justiça (TJ)
do Estado do Pará. Tato confessou o
crime e foi condenado a 27 anos de prisão
por co-autoria no homicídio qualificado.
No entanto, o fazendeiro teve a pena reduzida
em um terço (para 18 anos) por causa
da delação premiada – Tato entregou
os mandantes, contribuindo para as investigações.
Durante seu depoimento,
ele apontou a participação do
fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida,
como o responsável pela oferta de dinheiro
para os pistoleiros Rayfran das Neves Sales,
o Fogoió, e Clodoaldo Batista, condenados
em dezembro de 2005. De acordo com Tato, o
outro acusado de ser o mandante do crime,
Regilvaldo Galvão, o Taradão,
teria dito apenas que “queria ver Irmã
Dorothy morta”.
“Esperamos que esta importante
condenação não diminua
o empenho da Justiça em realizar o
julgamento dos mandantes o mais rápido
possível”, disse André Muggiati,
campaigner do Greenpeace na Amazônia,
que estava presente no julgamento.
Nesta sexta-feira (28/04),
o TJ do Pará deverá julgar um
embargo infringente em favor de Regivaldo
Galvão – espécie de recurso
que poderá livrá-lo do Tribunal
do Júri. Também tramita no Supremo
Tribunal Federal (STF) o recurso para que
os réus aguardem pelo julgamento em
liberdade.
“Atingimos mais um estágio
na luta pela Justiça neste caso. Entretanto,
ela só estará completa quando
os dois mandantes do crime também forem
julgados”, disse o Procurador-chefe do Ministério
Público Federal em Belém, Felício
Pontes Jr.
O irmão da missionária,
David Stang, afirmou que “a família
Stang está muito satisfeita com a Justiça
do estado do Pará. No entanto, estamos
extremamente preocupados com os recursos que
estão sendo impetrados pelos fazendeiros
e não vemos motivo para que eles fiquem
fora da cadeia”, disse ele.
Cerca de 500 pessoas acamparam
em frente ao Tribunal de Justiça do
Pará para acompanhar o julgamento.
Durante a manhã, o Greenpeace e os
participantes dos movimentos sociais presentes
colocaram centenas de cruzes em frente ao
Tribunal para simbolizar as mortes ocorridas
em conflitos de terra no Pará nos últimos
30 anos. O acampamento deverá permanecer
até o julgamento do recurso dos fazendeiros,
na sexta-feira.
Irmã Dorothy
A missionária americana
naturalizada brasileira Dorothy Stang, 73
anos, foi assassinada com seis tiros em Anapu,
no Pará, no dia 12 de fevereiro. Irmã
Dorothy vivia há mais de 30 anos na
região da Transamazônica e dedicou
quase a metade de sua vida a defender os direitos
de trabalhadores rurais contra os interesses
de fazendeiros e grileiros da região,
de forma absolutamente pacífica. Desde
1972, ela trabalhava com as comunidades rurais
de Anapu pelo direito à terra e por
um desenvolvimento sustentável, sem
destruição da floresta.