25/04/2006
- Camponeses de 14 regiões do Ceará
e Rio Grande do Norte estão avaliando
a substituição da tradicional
agricultura de coivara - na qual a vegetação
é queimada antes do plantio - por uma
forma mais produtiva e ecologicamente correta
de exploração da terra: o Sistema
de Produção Agrossilvipastoril,
desenvolvido na Embrapa Caprinos (Sobral-CE),
Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária, vinculada ao Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
O modelo - que consegue ao mesmo tempo conservar
os recursos naturais, fixar o homem no campo
e aumentar com sustentabilidade a produtividade
agrícola e pecuária - será
apresentado durante o V Exposição
de Tecnologias Agropecuárias - Ciência
para a Vida, que está sendo realizada
de 24 a 30 de abril na Sede da Embrapa, em
Brasília, DF.
Segundo o pesquisador João
Ambrósio de Araújo Filho, coordenador
das pesquisas, o sistema possibilita uma produção
animal de 61 kg/ha ao ano, dez vezes maior
que no modelo tradicional. A produção
de grãos chega a 1.400 kg/ha ano, enquanto
que a média do Ceará hoje não
ultrapassa os 400kg/ha. Associado ao aumento
da produção, é possível
afastar o perigo da desertificação,
que só no estado do Ceará ameaça
entre 15% a 20% do território.
Outra vantagem do sistema
é a fixação da atividade
agrícola em um mesmo local, o que não
é possível no modelo tradicional,
em que, por conta do esgotamento do solo,
a rotação entre as terras é
intensa, promovendo a degradação
de territórios cada vez maiores. Como
conseqüência, restam no Ceará
menos de 10% da vegetação original.
Além das perdas da biodiversidade vegetal
e faunística, o sistema tradicional
promove grandes perdas do solo e o assoreamento
dos cursos d'água. De acordo com João
Ambrósio, só a erosão
faz com que se percam cerca de 100 toneladas
de solo por hectare ao ano no Ceará.
Cópia da
natureza
Para reverter este quadro
de degradação, o Sistema de
Produção Agrossilvipastoril
copia ao máximo a natureza, preservando
árvores, mantendo reservas de floresta
nas propriedades e a mata ciliar dos cursos
d'água. Nele, as árvores e arbustos
são associados à agricultura
e pecuária numa mesma área simultaneamente.
No modelo, a propriedade
de oito hectares é dividida em três
parcelas: agrícola, pecuária
e reserva legal. Nas áreas pastoril
e agrícola, é feito o raleamento
da Caatinga. O sistema permite a criação
de até 20 ovelhas ou cabras ao ano.
Isso evita a degradação por
sobrepastejo, quando são mantidos animais
em quantidade superior à capacidade
do pasto.
Na área agrícola,
a madeira útil é retirada e
os garranchos são amontoados em cordões,
separados pelo espaçamento de três
metros. Ao lado dos cordões, são
plantadas leguminosas, como leucena e gliricídia
e as culturas de grãos, como milho
e feijão, se encaixam nos três
metros. O objetivo de intercalar as culturas
com os cordões de garranchos, é
evitar a erosão e manter o adubo verde
para o solo.
O modelo mantém também
as árvores nativas, que entre outras
vantagens, evitam a erosão e o empobrecimento
do solo. O grande desafio, de acordo com João
Ambrósio de Araújo Filho, é
convencer o agricultor, acostumado com a prática
ancestral da coivara, a adotar um novo sistema.
Para isso, os pesquisadores buscam ajuda de
instituições que já tenham
atuação junto aos camponeses.
Exposição
- O evento é uma realização
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
- Embrapa, vinculada ao Ministério
da Agricultura Pecuária e Abastecimento
que este ano tem como tema a "Popularização
da Ciência e Tecnologia". O evento
vai reunir, em uma área de 10000 metros
quadrados ocupada por 111 estandes, variadas
tecnologias e produtos desenvolvidos pelas
Unidades da Embrapa de todo o Brasil e por
seus parceiros, como Sebrae, instituições
de pesquisas estaduais e universidades.
Todas as atrações
do Ciência para a Vida são totalmente
gratuitas. O evento será realizado
no Parque Estação Biológica,
avenida W3 Norte (final), no Pavilhão
Ciência para a Vida em frente à
sede da Empresa, das 10h às 22h.