06/05/2006 - Brasília
– O agricultor Délcio Jacó Salzém
desconfiou quando começou a plantar
sementes de hortaliças agroecológicas,
por sugestão de técnicos ligados
ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST). Para ele, o cultivo sem o uso
de agrotóxicos era algo impossível.
"Fiquei com um pé na frente e
outro atrás, porque não acreditava
que fosse dar certo", conta.
Quase dez anos depois, ele
comemora. "Sou um privilegiado por ter
sido um dos escolhidos. A produção
de sementes ecológicas, além
possibilitar uma alimentação
saudável para a nossa família,
significa uma enorme economia", diz.
"A gente não gasta com a compra
do adubo, da uréia e do veneno. Fazemos
o nosso próprio adubo sem agredir o
solo ou contaminar o meio ambiente".
A comercialização das sementes
também traz uma renda de R$ 500 mensais
à família, acrescenta o agricultor.
Salzém faz parte
das 12 famílias de agricultores selecionadas
para dar início ao projeto Bionatur
Sementes Agroecológicas, nascido em
1997, nos assentamentos de Candiota e Hulha
Negra, no Rio Grande do Sul, sob a coordenação
da Cooperativa Regional dos Agricultores Assentados
(Cooperal) do MST.
Desde 2005, o Bionatur passou
a ser coordenado pela Cooperativa Agroecológica
Terra e Vida (Conaterra). A rede se expandiu
para 20 municípios do Rio Grande do
Sul, Santa Catarina, Paraná e sudeste
de Minas Gerais e hoje conta com 250 famílias
que produzem 63 diferentes tipos de sementes.
A última safra atingiu
22 toneladas de sementes produzidas, o que
é considerado uma "vitória"
pelo coordenador da Conaterra, Marino de Bortoli.
"Estamos com uma proposta de diversificação.
Queremos produzir não apenas as sementes
hortaliças, mas chegar à produção
de leite, grãos e pequenos animais",
explica.
A expansão das atividades
será um dos temas tratados durante
o Terceiro Encontro Nacional da Rede Bionatur
de Sementes Agroecológicas. O evento
ocorre de terça-feira (9) a quinta-feira,
em Candiota (RS).