02.05.2006 - Um estudo
lançado pela Rede WWF indica que plantas
com enorme potencial para ajudar no tratamento
ou até curar doenças como câncer,
Aids e malária foram encontradas nas
florestas tropicais da ilha de Bornéu,
localizada no sudeste asiático. No
entanto, a degradação ambiental
na região já ameaça boa
parte deste riquíssimo acervo medicinal
que demanda proteção urgente.
Intitulada “Biodescobertas,
o segredo botânico de Bornéu”
(Biodiscoveries, Borneo's Botanical Secret),
a pesquisa revela que cientistas estão
otimistas com os primeiros testes realizados
com substratos retirados da vegetação
local. Os resultados surpreenderam pela eficiência
em combater algumas das doenças humanas
mais fatais.
Uma das descobertas mais
incríveis foi a substância retirada
do látex produzido a partir de uma
árvore local chamada Bintangor. O químico
mostrou-se capaz de combater, ao mesmo tempo,
o HIV e a bactéria causadora da tuberculose.
Até hoje, nenhuma droga existente tem
esta propriedade. Se for aprovada clinicamente
esta pode ser uma promessa importante para
a saúde de milhões de pessoas
em todo o mundo.
Outra espécie local,
batizada de Aglaia leptantha, é estudada
por especialistas da Cerylid Biosciences,
uma companhia farmacêutica australiana.
O extrato do vegetal provou-se eficiente em
eliminar 20 tipos diferentes de células
cancerígenas – incluindo as responsáveis
por câncer no cérebro, na mama
e por melanomas (tumores).
“O fato de esta substância
ser muito eficiente contra vários tipos
de células que causam tumores agressivos
é um argumento forte para defendermos
a preservação de seu habitat
em Bornéu”, diz Dr. Murray Tait, vice-presidente
de pesquisas de novas drogas da empresa. “A
destruição da floresta pode
privar a ciência da oportunidade de
descobrir outras fontes em potencial de remédios
salvadores”, complementa.
O estudo ainda cita outro
achado importante. Pesquisadores encontraram
um poderoso componente contra a malária
na casca de uma árvore da região.
A substância é utilizada e velha
conhecida dos Kenyah, comunidades tradicionais
de Bornéu. Caso futuras drogas sejam
comprovadamente como seguras para consumo,
as populações locais deverão
receber benefícios por compartilhar
seu conhecimento milenar.
De acordo com a Rede WWF,
422 novas espécies de plantas foram
descobertas em Bornéu nos últimos
25 anos e muitas outras ainda esperam para
ser conhecidas. Contudo, boa parte desta riqueza
está ameaçada pela falta de
proteção ambiental. Até
o momento, a ilha já perdeu metade
de sua vegetação original e
os esforços agora são para garantir
a proteção do que sobrou de
espécies nativas.
Politicamente, Bornéu é dividida
entre três nações. Uma
pequena porção pertence ao governo
de Brunei e a maior parte do território
da ilha é controlada por Indonésia
e Malásia. Recentemente, os três
países uniram-se e lançaram
a iniciativa “Coração de Bornéu”
com o objetivo de preservar aproximadamente
220 mil quilômetros quadrados de florestas.
“Nós esperamos que
muito em breve os três governos assinem
uma declaração conjunta pela
preservação do ‘Coração
de Bornéu’”, diz Mike Kavanagh, secretário-executivo
do WWF-Malásia. “Um documento como
este asseguraria uma proteção
a longo prazo de uma região que pode
conter algumas das mais importantes descobertas
medicinais do futuro”.