05/05/2006
- Brasília – A construção
de hidrelétricas no Rio Madeira, em
Rondônia, pode afetar toda a Bacia Amazônica,
alertam ativistas reunidos em Porto Velho
em encontro de ONGs e movimentos sociais de
todo o Brasil. "As represas que estão
previstas atingem o conjunto da Bacia do Rio
Madeira, o maior afluente do rio Amazonas",
diz Luiz Fernando Novôa, representante
da Rede Brasileira de Integração
dos Povos (Rebrip). "Ou seja, o Rio Amazonas
está em risco também. Os seus
delicados equilíbrios colocados há
milhares de anos podem ser abruptamente destruídos."
Em entrevista à Rádio
Nacional da Amazônia, Novôa disse
que estudos de especialistas que estão
sendo analisados pelos movimentos sociais
apontam que o alagamento de grandes áreas
na região causaria impactos violentos
na floresta e desequilibraria todo o ecossistema
amazônico, além de atingir os
habitantes que vivem dos recursos da floresta.
O projeto de um complexo
de hidrelétricas no Madeira está
aguardando licenciamento ambiental para ser
leiloado pela Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel). Novôa também
afirma que projetos como o das hidrelétricas,
ou de uma hidrovia no Madeira, para o escoamento
de grãos, como é discutido na
região, vão na contramão
da proposta de criar um modelo alternativo
de desenvolvimento para a região.
Nesse sentido, Novôa
lembra que, com a atual discussão sobre
o incentivo à produção
brasileira de energia alternativa baseada
na biomassa (álcool e biodiesel), a
monocultura extensiva de cana ou oleaginosas
para biodiesel pode suceder o atual surto
de expansão da soja na Amazônia,
perpetuando os problemas causados pela monocultura
na região.
"O problema é
que essa prioridade [produção
de biocombustíveis] não pode
destruir outras prioridades, como, por exemplo,
criar um desenvolvimento alternativo para
a Amazônia, como por exemplo, garantir
terra, justiça social, direitos aos
povos que vivem nessas regiões",
diz ele. "A prioridade de produção
agrícola para exportação
tem que ser ponderada com outras prioridades
nacionais."
De acordo com Novôa,
a desintegração cultural e política
da Amazônia potencializa o problema.
Segundo Novôa, o fato de o Brasil ter
um território tão extenso e
de a Amazônia ainda ser considerada
uma área de fronteira dificulta o processo
de integração nacional e dá
pouca visibilidade ao que acontece na região.
A Rebrip, articulação
de movimentos sociais que busca a discussão
de temas ligados ao processo de globalização,
além de diversas outras organizações
não governamentais e movimentos sociais
realizam até amanhã (6) uma
reunião na capital de Rondônia
para discutir o projeto do complexo do Rio
Madeira. Do encontro, deve resultar um documento,
a Carta de Porto Velho, pedindo ao governo
que abra diálogo com representantes
da sociedade sobre o projeto das hidrelétricas.