05-05-2006
- São Paulo - Programa Nuclear brasileiro
é um pesadelo militar, herança
radioativa e desperdício de dinheiro
público
O ministro da Ciência
e Tecnologia, Sergio Rezende, realizou hoje
a cerimônia de inauguração
da unidade de enriquecimento de urânio
no Brasil, marcada pelo desperdício
de dinheiro público e pela herança
radioativa que será deixada pelo governo
federal. A inauguração ocorre
uma semana após o 20o aniversário
do desastre de Chernobyl, que conta com um
saldo aproximado 200 mil mortes e centenas
de milhares de vítimas, que tiveram
que abandonar suas casas, perderam sua fonte
de renda e ainda vivem em regiões contaminadas
pela radiação.
Com custo altíssimo
e motivação dúbia, o
governo federal concretizou um velho sonho
dos militares da ditadura da década
de 70, desperdiçando recursos públicos
para enriquecer urânio em escala industrial
na Fábrica de Combustível Nuclear
(FCN) das Indústrias Nucleares do Brasil
(INB), em Resende (RJ). Por esse processo,
o urânio pode ser utilizado para fabricação
de combustível nuclear para as usinas
de Angra, eventualmente para fins de exportação
conforme anunciado na visita do presidente
Lula à China em 2004, e deixa uma porta
aberta para seu uso militar.
“Essa iniciativa do governo
é extremamente preocupante, pois dá
um sinal claro das intenções
do governo de promover a tecnologia nuclear
e levanta suspeitas da comunidade internacional
sobre um potencial uso militar, como demonstra
hoje a polêmica em relação
ao programa iraniano. Além disso, a
possibilidade de o Brasil exportar urânio
enriquecido vai diretamente contra o compromisso
assumido pelo governo brasileiro em 1997 com
o Tratado de Não-Proliferação
Nuclear”, afirmou Guilherme Leonardi, coordenador
da campanha antinuclear do Greenpeace Brasil.
Em março, a Câmara
dos Deputados divulgou relatório apontando
vários problemas graves na área
de segurança nuclear no Brasil, como
a contraditória duplicidade de funções
da Comissão Nacional de Energia Nuclear
(CNEN), que ao mesmo tempo incentiva e fiscaliza
o setor. Outros problemas apontados foram
falhas no plano de emergência das instalações
nucleares; inexistência de fiscais e
de normas de fiscalização e
punição para irregularidades;
tratamento improvisado para o lixo nuclear;
e a falta de acesso público à
informação.
Além do anúncio
do enriquecimento de urânio, o governo
ainda insiste na possibilidade de construir
a usina nuclear Angra 3. Essa obra representaria
um desperdício de dinheiro público
de pelo menos mais R$ 7 bilhões.
A energia nuclear é
cara, suja, perigosa e ultrapassada, e o país
deve parar imediatamente a aventura nuclear,
utilizando fontes renováveis (como
a eólica, a solar e a biomassa), que
são limpas e seguras, juntamente com
eficiência energética. “O governo
brasileiro mostra sua total falta de compromisso
com o desenvolvimento de uma matriz energética
limpa e sustentável.”, acrecentou Leonardi.