Espécies
raras e novas para a ciência foram descobertas
no maior levantamento da biodiversidade de
Squamata já feito na região
Brasília, 12 de maio
de 2006 — Estudo recém concluído
sobre a biodiversidade de répteis no
Cerrado mostra que a riqueza desses animais
no bioma é muito superior aos últimos
registros oficiais. As amostragens, obtidas
ao longo de sete anos esquadrinhando dez diferentes
áreas em seis estados e reunindo informações
em museus e na literatura, chegou a 236 espécies,
76 a mais do que o número até
então conhecido no meio científico
para o grupo de Squamata, que incluem lagartos,
serpentes e anfisbenas, como são chamadas
as cobras de duas cabeças.
Entre os espécimes
coletados, foram registradas 20 espécies
novas - nove de lagartos, nove de serpentes
e duas de anfisbenas – e várias espécies
raras, incluindo duas serpentes cujo último
registro era de 1921 e que foram fotografadas
em vida pela primeira vez.
O resultado do inventário,
que recebeu apoio da Conservação
Internacional (CI-Brasil), oferece informações
fundamentais para a conservação
de répteis no Cerrado. Segundo o autor
do estudo, Cristiano Nogueira, analista em
Biodiversidade da CI-Brasil, ao contrário
do que diziam interpretações
anteriores, a fauna de lagartos e serpentes
depende de micro-ambientes específicos,
e poucas espécies são capazes
de se manter em ambientes degradados. Além
disso, quase metade dos lagartos, 45%, só
ocorrem no Cerrado, ou seja, são endêmicos
do domínio, tendo sua sobrevivência
diretamente relacionada às ações
de conservação específicas
para essa região.
A diversidade local de répteis
do Cerrado também é alta, ao
contrário do que diziam interpretações
anteriores. “Em localidades preservadas de
Cerrado, como Parques Nacionais e Estações
Ecológicas, onde toda a gama original
de hábitats do Cerrado está
intacta, podem ocorrer mais de 100 espécies
de lagartos e serpentes, colocando o Cerrado
como um dos ambientes mais ricos em répteis
no continente”, revela o pesquisador.
Outro dado importante é
que as espécies não se distribuem
de modo homogêneo ao longo de toda a
extensão do Cerrado. Nogueira observa
que boa parte da diversidade e endemismo de
répteis ocorre em áreas abertas,
em geral, em topos de chapadas - nos campos
sujos e limpos -, justamente os principais
ambientes afetados pela destruição
de habitats com o avanço da fronteira
agrícola. “Se o Cerrado não
for protegido adequadamente, um grande número
de espécies e um legado evolutivo único
estará em risco”, alerta.
Proteção aos
remanescentes - Da área original que
cobria um quarto do território brasileiro,
restam apenas 20% de remanescentes e menos
de 3% está legalmente protegido, por
isso a urgência em estudos de prospecção
de biodiversidade no Cerrado, um dos 25 hotspots
mundiais, como são identificadas as
regiões naturais mais biodiversas e
ameaçadas do planeta.
O diretor do Programa Cerrado
e Pantanal da CI-Brasil, Ricardo Machado,
observa que os dados, em constante atualização,
já foram incorporados na primeira revisão
das áreas insubstituíveis do
Cerrado, aquelas essenciais para estabelecer
um sistema representativo de áreas
e espécies protegidas e na definição
de áreas prioritárias para a
Serra do Espinhaço.
Espécies
ameaçadas – Os novos dados
também oferecerão subsídios
para rever a situação de risco
de répteis Squamata no Cerrado. “Muitas
espécies amostradas neste projeto eram
tão pouco conhecidas que nem sequer
podiam ser avaliadas adequadamente para possível
inclusão em listas oficiais de espécies
ameaçadas”, explica. Hoje, apenas duas
das mais de 200 espécies de répteis
do Cerrado fazem parte lista oficial brasileira
de espécies ameaçadas. O pesquisador
salienta que algumas espécies novas
e boa parte das espécies endêmicas,
especialmente aquelas da região sul
do Cerrado, já estão com boa
parte de seus ambientes originais degradados.
“É até possível que espécies
tenham sido extintas mesmo antes de terem
sido descritas pela ciência”, acredita.
Os estudos procuraram avaliar
a riqueza e diversidade em áreas preservadas
de Cerrado, para as quais havia poucas informações
biológicas. Muito do que se sabia estava
vinculado a eventos de destruição
de habitats por enchimentos de represas em
hidrelétricas o que obrigava a realização
de um inventário. “Era necessário
estudar em detalhe as áreas protegidas,
para entender a distribuição
e os ambientes originais das espécies,
e fornecer dados para o manejo dessas unidades
de conservação”, conta.
Além do inventário
geral de Squamata, a ecologia e padrões
de diversidade dos lagartos no bioma foi detalhada
em tese de doutorado em Ecologia, pelo Instituto
de Biociências da Usp, defendida recentemente
por Nogueira, e que contou com apoio da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (Fapesp).
Fontes: Cristiano Nogueira
– Analista de Biodiversidade
Ricardo Machado – Diretor do Programa Cerrado
e Pantanal da CI-Brasil
A Conservação
Internacional (CI) foi fundada em 1987 com
o objetivo de conservar o patrimônio
natural do planeta - nossa biodiversidade
global - e demonstrar que as sociedades humanas
são capazes de viver em harmonia com
a natureza. Como uma organização
não-governamental global, a CI atua
em mais de 40 países, em quatro continentes.
A organização utiliza uma variedade
de ferramentas científicas, econômicas
e de conscientização ambiental,
além de estratégias que ajudam
na identificação de alternativas
que não prejudiquem o meio ambiente.
A Conservação Internacional
tem sede em Belo Horizonte-MG. Outros escritórios
estão estrategicamente localizados
em Brasília-DF, Belém-PA, Campo
Grande-MS e Salvador-BA. Para mais informações
sobre os programas da CI no Brasil, visite
www.conservacao.org