12.05.2006 - Estudo
realizado pelo WWF-Brasil em São Paulo
e Rio de Janeiro sobre o mercado de produtos
orgânicos revela que a carne orgânica
ainda é um produto desconhecido e pouco
consumido no Brasil, ao contrário do
que ocorre em países europeus onde
este mercado está em amplo crescimento.
Segundo o estudo, a falta de informações
sobre o que é carne orgânica
e sobre os benefícios sociais e ambientais
decorrentes do modo de produção
orgânico são as principais razões
para esse baixo consumo no país. Atualmente,
o mercado de orgânicos (vegetais e animais)
experimenta uma expansão de 15% ao
ano no Brasil, mas a carne orgânica
tem uma participação em torno
de 1%.
Com esse panorama identificado,
a ONG ambiental pretende incentivar o consumo
responsável. O WWF-Brasil apóia
a pecuária orgânica nos estados
do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul por acreditar
que o sistema produtivo orgânico contribui
para a sustentabilidade ambiental e para o
desenvolvimento econômico. Atualmente,
apenas pecuaristas desses dois estados produzem
carne orgânica certificada no país.
São 13 fazendas e aproximadamente 70
mil hectares em pastagens e cerca de 55 mil
cabeças de gado. Os projetos são
certificados e acompanhados pelo Instituto
Biodinâmico (IBD).
A certificação
exige a recuperação das áreas
degradadas e a preservação das
nascentes e das matas nas margens dos rios,
no entorno de nascentes e nas encostas de
morros. Além disso, o WWF-Brasil está
incentivando os proprietários a criarem
Reservas Particulares do Patrimônio
Natural (RPPNS), unidades de conservação
privadas e perpétuas, para aumentar
o volume de áreas naturais conservadas
nas propriedades.
Nas propriedades certificadas,
a atenção aos empregados também
é monitorada. Cumprimento da legislação
trabalhista, moradia digna para os trabalhadores,
escolas e capacitação quanto
às normas de certificação
e produção orgânica são
algumas das exigências.
A pesquisa
Realizada no período
de novembro de 2005 a março de 2006,
a pesquisa de análise de mercado para
a carne orgânica teve o objetivo de
identificar potenciais nichos de mercado para
a Associação Brasileira de Pecuária
Orgânica (ABPO), no Mato Grosso do Sul,
e para a Associação Brasileira
de Produtores de Animais Orgânicos (Aspranor),
no Mato Grosso.
No Rio de Janeiro e São
Paulo (capitais), foram entrevistados 763
consumidores e 107 estabelecimentos comerciais
com venda direta (churrascarias, restaurantes,
açougues ou butiques de carne), além
de pesquisados 79 canais de comercialização
do mercado de varejo (supermercados e hipermercados).
Do universo de 763 consumidores
entrevistados – homens e mulheres na faixa
entre 31 e 60 anos –, 70% desconheciam o que
é carne orgânica e as características
do sistema produtivo. De acordo com o estudo,
o desconhecimento sobre carne orgânica
está relacionado à carência
de informações sobre alimentos
orgânicos de origem animal em geral,
ao contrário do que ocorre com os alimentos
orgânicos de origem vegetal, melhor
difundidos e com consumo consolidado.
Outros dados apurados são
que 28% dos consumidores entrevistados já
viram carne orgânica nos mercados e
31,8% pagariam a mais pelo produto por acreditarem
que a carne orgânica é de melhor
qualidade. Os resultados do levantamento mostram
a preferência pelo consumo de carne
bovina e a exigência quanto à
qualidade, fator que influencia na decisão
de compra. Há uma disposição
do consumidor em pagar entre 5% e 30% a mais
desde que o produto atenda às expectativas
de melhor qualidade.
Em relação
aos mercados distribuidores foi constatado
que o ambiente do mercado interno é
favorável ao desenvolvimento comercial
da carne orgânica. Apesar de se configurar
como um campo aberto de possibilidades, os
gerentes de compra apontam como fatores necessários
para aumentar a oferta ao consumidor, a regularidade
no fornecimento e a definição
de padrão de qualidade para o produto
relacionada ao padrão tecnológico
utilizado em todas as etapas da cadeia produtiva.
Isso permitirá a oferta de cortes de
carnes com peso e espessura padronizados,
por exemplo.
Para definição
do padrão tecnológico para o
sistema de produção orgânica
animal, no entanto, ainda faltam pesquisas
acadêmicas relacionadas ao controle
genético e sanitário e à
nutrição. Vale ressaltar, que
a Lei da Agricultura Orgânica (Lei 10.831,
de dezembro de 2003), que estabelece as normas
desde a produção até
distribuição de orgânicos,
ainda está sendo regulamentada.
Quanto ao mercado externo,
a média de crescimento anual de consumo
é de 10% na Alemanha, Itália,
Holanda, França e Reino Unido. Segundo
a pesquisa internacional “Organic Marketing
Initiatives and Rural Development 2004”, alguns
países do Mercado Comum Europeu tiveram
um déficit de até 62% entre
a produção e demanda de consumo.
Os países com mercado em crescimento
são Bélgica, Finlândia,
França, Itália, Holanda e Reino
Unido, entre outros.
O que é a
pecuária orgânica?
O manejo orgânico
visa o desenvolvimento econômico e produtivo
que não polua, não destrua o
meio ambiente e que valorize o homem. A pecuária
de corte orgânica tem como objetivo
uma produção que mantenha o
equilíbrio ecológico englobando
os componentes produtivos, ambiental e social,
a partir de normas estabelecidas pelas instituições
certificadoras.
Na criação,
o gado orgânico é rastreado desde
seu nascimento até o abate, com registro
de peso, alimentação, vacinas,
entre outras informações, em
fichas individuais. A alimentação
dos animais é observada com especial
atenção. Além da pastagem,
outros ingredientes compõem o cardápio
do gado orgânico como casca de soja
não transgênica e farelo de algodão.
Esses alimentos têm procedência
garantida ou são produzidos pelos próprios
pecuaristas de acordo com as normas da certificação.
Outra preocupação é quanto
ao bem-estar dos animais. As fazendas trabalham
com sombreamento das pastagens e currais em
formato circular para que o gado não
se machuque.
Uma das prioridades das
certificadoras é garantir a segurança
alimentar. Por isso, é exigida e monitorada
a vacinação, inclusive contra
febre aftosa. Em caso de alguma enfermidade,
o gado orgânico é tratado com
produtos fitoterápicos e homeopáticos.
Também é proibido o uso de uréia
na alimentação e de hormônios
para engorda. Com relação ao
meio ambiente, também é proibido
o uso de fogo para manejar as pastagens.