15/05/2006 - A pesquisa,
cujos resultados são ainda preliminares,
identificou nível acima do normal de
Escherichia coli, bactéria cuja presença
indica a contaminação com fezes
humanas ou de outros animais. O relatório
fala em “contaminação fecal
contínua”.
A análise de amostras
de água coletadas no Curisevo, um dos
afluentes formadores do rio Xingu, no Parque
Indígena do Xingu, no norte do Mato
Grosso, confirmou contaminação
por dejetos orgânicos. Realizado no
ano passado, o estudo - que ainda é
preliminar - não comprovou a presença
de agrotóxicos e fertilizantes químicos
na água, mas afirma que o risco deste
tipo de contaminação na região
é grande e seria necessário
realizar testes mais detalhados sobre o assunto.
O Parque Indígena do Xingu abriga mais
de cinco mil índios, de 14 diferentes
etnias.
O trabalho é de autoria
de Thomas Gregor, do Departamento de Antropologia
da Universidade de Vanderbilt, dos Estados
Unidos, e aponta que “a qualidade da água
foi inquestionavelmente afetada”. Gregor fez
duas coletas, entre junho e julho de 2005,
nas proximidades das aldeias Uyaipyuku e Utanawa,
do povo Mehinaku (saiba mais). O pesquisador
deve voltar à região nos próximos
meses para realizar análises mais aprofundadas
para confirmar os resultados dos testes.
A pesquisa identificou um
nível acima do normal de Escherichia
coli, bactéria cuja presença
na água ou na comida indica a contaminação
com fezes humanas ou de outros animais. A
quantidade do microorganismo por mililitro
é uma das principais medidas usadas
no controle sanitário da água
potável e de alimentos. O relatório
fala em uma “contaminação fecal
contínua”. Sob certas circunstâncias
especiais, a própria E-Coli, como é
conhecida, pode causar intoxicação
alimentar, infecção urinária
e apendicite, entre outras doenças.
Já há algum
tempo, populações indígenas
da região têm denunciado casos
de intoxicação pelo uso da água.
Gregor avalia que o problema deve estar sendo
causado pelo livre acesso do gado aos cursos
d´água locais e por dejetos jogados
pelas cidades e por pousadas de pescadores
que ficam ao redor do Parque. O antropólogo
acredita também que é grande
a possibilidade de contaminação
por agrotóxicos em virtude do uso intensivo
da substância nas fazendas próximas
e pelo tipo de inclinação do
terreno na região.
“Os Mehinaku já deixaram
de consumir a água do rio e estão
usando poços artesianos. Outros grupos
estão fazendo o mesmo”, adverte Gregor.
Segundo o pesquisador, o uso de poços
fez baixar os casos de doenças ligadas
ao consumo de água imprópria
para beber, como diarréias.
O trabalho lembra que a
população indígena é
extremamente vulnerável a uma possível
queda na qualidade da água por consumí-la
diretamente, usá-la no preparo da maior
parte de seus alimentos e comer muito peixe.
Gregor recolheu relatos sobre casos passados
de doenças gastrointestinais e mortandade
anormal de peixes, sobretudo na época
das chuvas.
A pesquisa confirma ainda
o impacto do desmatamento e das atividades
produtivas na região ao afirmar que,
na época da cheia, as águas
da chuva vêm jogando grande quantidade
de lixo e de terra provenientes de propriedades
rurais nos cursos de água, o que vem
causando o seu assoreamento. O trabalho menciona
ainda que já é possível
perceber certa quantidade de lixo acumulado
nas margens e nos bancos de areia de alguns
rios. Algumas aldeias do Parque Indígena
do Xingu já vêm se mobilizando
há algum tempo para recolher e enterrar
o seu lixo ou encaminhar resíduos especiais
com potencial de contaminação,
como baterias, por exemplo, para as cidades
mais próximas.
Outro estudo aponta
precariedade do saneamento na região
Um outro estudo, finalizado
pelo Ministério das Cidades (MC), em
setembro de 2005, concluiu que a situação
do saneamento básico em 14 cidades
da Bacia do Xingu no Mato Grosso é
precária. Entre outras conclusões,
o diagnóstico revelou que só
uma cidade, Sinop, possui aterro controlado
para lixo e mesmo assim ele é deficiente.
Os outros municípios fazem a coleta,
mas depositam seus detritos a céu aberto
e sem nenhum procedimento especial. Além
disso, em apenas três localidades –
Gaúcha do Norte, Nova Ubiratã
e Ribeirão Cascalheira – está
sendo implantado sistema de tratamento de
água. Somente em Cláudia existe
rede de esgoto, mas a sua manutenção
também foi classificada de inadequada.
A realização do trabalho foi
articulada por organizações
que fazem parte da campanha ´Y Ikatu
Xingu, que pretende proteger e recuperar as
nascentes e as matas ciliares do rio Xingu
no Mato Grosso (confira).