24/05/2006
- Pesquisadores brasileiros já começam
a deter o conhecimento necessário para
a recuperação das clareiras
abertas na floresta amazônica pela atividade
da indústria do petróleo. Na
próxima segunda-feira (29), os primeiros
resultados do projeto "Dinâmica
de clareiras sob impacto da exploração
petrolífera" serão apresentados,
em Belém (PA), por estudiosos do Museu
Paraense Emílio Goeldi (MPEG), das
universidades Federal do Pará (UFPA)
e Federal Rural da Amazônia (UFRA),
e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(Inpa). O MPEG e o Inpa são vinculados
ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
O "1º Encontro
Científico do Projeto PT1: resultados
e perspectivas futuras" mostrará,
no auditório da Reitoria da UFPA, os
dados parciais levantados pelo trabalho de
34 pesquisadores - entre eles 21 doutores
– ligados a estudos sobre dinâmicas
das clareiras abertas pelas atividades da
Petrobras na Bacia do Rio Urucu, no estado
do Amazonas.
"Os resultados apontam
a grande diversidade biológica da região
e incluíram até novas ocorrências
de plantas, aves, répteis, insetos
e aranhas. O grau de impacto das atividades
petrolíferas sobre a biodiversidade,
apesar de intenso nas áreas de clareiras,
é ainda compensado pelo estado de preservação
da floresta do entorno, o que indica boas
perspectivas para um plano de recuperação",
afirma a coordenadora do projeto, Ana Lúcia
da Costa Prudente, pesquisadora ligada à
Coordenação de Zoologia do Museu
Goeldi.
Chamado também pela
sigla PT1, o estudo "Dinâmica de
Clareira sob impacto da exploração
petrolífera", é um dos
cinco subprojetos que compõem a rede
de pesquisa Amazônia 3, da rede nacional
de pesquisa CT-Petro. Criada em 2001 e coordenada
na região amazônica pelo Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT),
a rede é a única do Norte entre
as 13 redes de pesquisa nacionais financiadas
pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq/MCT)
e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCT),
com recursos provenientes do Fundo Setorial
do Petróleo e Gás Natural (CT-Petro).
A Rede CT-Petro Amazônia
é uma rede temática cooperativa
entre instituições de ensino
superior e de ciência e tecnologia que
visa intensificar a troca de informações
e conhecimentos que permitam identificar,
avaliar, eliminar ou minimizar os impactos
ambientais das atividades de prospecção
e transporte do gás natural e petróleo
na Amazônia brasileira.
"Este é o primeiro
projeto amazônico financiado para subsidiar
a recuperação das clareiras
abertas pela atividade da indústria
petroleira. A pesquisa em áreas de
prospecção de petróleo
teve um salto qualitativo com esta rede de
pesquisa. O projeto permitiu a organização
e sistematização de iniciativas
individuais que há muito eram desenvolvidas
pelos pesquisadores", avalia Ana Lúcia,
lembrando que, além de apresentar os
resultados parciais do projeto de pesquisa
sobre as dinâmicas de clareiras, o evento
do dia 29 também discutirá as
perspectivas para a nova fase de trabalho,
que passa por processo de renovação
junto à Finep.
Clareiras
Todos os dados apontados pelo projeto "Dinâmica
de Clareira sob impacto da exploração
petrolífera" vêm de áreas
visitadas pertencentes à Base de Extração
Petrolífera Geólogo Pedro de
Moura (Base do Urucu), instalada pela Petrobras
no município de Coari, à margem
esquerda do rio Urucu. A região do
Urucu é um pólo petrolífero
dentro da floresta amazônica que vem
sendo explorado desde 1987.
As áreas de estudos
do projeto somaram ao todo dez clareiras,
entre áreas de menor impacto (como
clareiras para pouso de helicópteros)
e com alto grau de impacto, devido à
exploração com compactação
ou retirada da camada de matéria orgânica.
Além de cinco clareiras artificiais,
formadas por jazidas, perfuração
de poços ou por outras atividades relacionadas
à exploração petrolífera
da Petrobras, também foram estudadas
dez clareiras naturais, formadas a partir
de quedas de árvores.
Além de traçar
um inventário completo sobre a fauna
ligada a estas clareiras e às matas
que as cercam (incluindo aranhas cursoriais,
dípteros, répteis, aves e mamíferos
roedores), a pesquisa também vem identificando
as espécies vegetais das matas vizinhas
que possivelmente podem estar recolonizando
essas clareiras, num processo natural de recuperação.
A compreensão de
como se dá a recomposição
de clareiras naturais é importante
para que se possa dar um empurrão a
favor da natureza na recuperação
de áreas degradadas. O entendimento
desse processo pode ajudar a eleger as melhores
espécies a serem usadas em reflorestamentos
– e, por isso mesmo, o estudo também
já está ajudando a avaliar os
reflorestamentos que vinham sendo executados
pela Petrobras em clareiras abertas pela suas
atividades na região.
Mas só isso não
basta. Para a recuperação das
áreas de clareiras, é preciso
saber como elas eram originalmente, além
de entender toda a complexidade de seus processos
ecológicos: quais são as espécies
de fauna e flora originalmente encontradas
nessas áreas e qual o papel de cada
uma elas em processos naturais de reflorestamento.
Além de um inventário
biológico da região do Urucu,
os trabalhos também vêm reunindo
informações sobre a distribuição
de espécies nessas áreas – algumas
indicadoras do próprio equilíbrio
ambiental. Além disso, entre os outros
bons resultados do projeto estão o
envio de itens zoológicos para a coleção
do MPEG e de material botânico para
os herbários do Inpa e do MPEG.
Para obter mais informações
sobre as atividades da Rede CT-Petro Amazônia,
basta acessar o site:
http://projetos.inpa.gov.br/ctpetro/index.php.