27/05/2006
- Rio - Há mais de 40 anos usando o
querosene para acender chamas e clarear o
ambiente, os índios da aldeia Sapukai,
em Angra dos Reis, no litoral sul do estado
do Rio de Janeiro, ao clicar um interruptor
vão ter toda a oca iluminada. As cerca
de 80 famílias que vivem no alto da
Serra do Mar foram incluídas no Programa
Luz para Todos, do governo federal, que leva
luz elétrica às áreas
rurais. Agora, eles poderão ter uma
geladeira para conservar os alimentos, assistir
a televisão e ouvir rádio. A
luz elétrica foi ligada na aldeia há
pouco mais de um mês, mas a inauguração
oficial das obras aconteceu ontem (26) com
uma festa na escola indígena guarani
Karai Kuery Renda, que fica próxima
à aldeia.
A eletricidade não
faz parte dos costumes dos índios guarani,
mas está sendo bem moradores da aldeia
ficaram ansiosos com a chegada da luz elétrica.
A maioria deles não fala português
e se comunica em guarani. O pajé admitiu
que a novidade "assusta um pouco".
"Vamos precisar de
orientação da Funai [Fundação
Nacional do Índio] e também
desse pessoal que colocou os postes e os fios
aqui na aldeia. Eu não sei nem ligar
a televisão e tenho que aprender para
ensinar o meu povo", comenta o cacique.
Ele também disse
que está preocupado com as crianças
da aldeia. "Todo mundo diz que se encostar
na tomada pode levar um choque e não
quero perigo para minhas crianças,
mas sei que a luz elétrica é
boa e que pode nos ajudar a trabalhar melhor
e ganhar dinheiro para comprar comida",
acrescentou.
O coordenador do programa
Luz para Todos na Funai, Cristino Machado,
informou que há uma equipe técnica
do órgão responsável
pela preparação dos índios
para o recebimento da luz elétrica.
Segundo ele, foram feitos folhetos no idioma
falado pelos índios, para orientá-los
sobre como usar a energia elétrica,
seus benefícios e também os
riscos.
"A chegada da luz elétrica
para essa aldeia significa um ganho muito
grande, porque eles vão poder desenvolver
várias outras atividades e gerar renda
para a subsistência da comunidade",
explicou.
Os índios da aldeia
Sapukai vivem da agricultura e do artesanato.
Com a eletrificação, foram também
inaugurados na aldeia uma oficina coletiva
para a confecção de cestos e
bijuterias e um ateliê de corte e costura
para estimular as mulheres a aprender o ofício.
Em cada uma das casas (ocas
feitas de bambu e barro) foi colocado um marcador
de energia pela distribuidora Ampla. Os índios
vão pagar a tarifa cobrada em áreas
rurais, que é mais barata do que a
tarifa para áreas urbanas – R$ 0,29
contra R$ 0,49 por quilowatt
consumido. Segundo Cristino Machado, no primeiro
mês as contas ficaram em torno de R$
10 e R$ 15 nas casas com geladeira, televisão,
rádio e liquidificador. De acordo com
o índio Ernesto Silva, um dos poucos
do local que falam português, o gasto
com a conta de luz vai ser menor que a despesa
que as famílias indígenas tinham
para comprar querosene. Uma média,
segundo ele, de R$ 30 por mês.