25-05-2006
- Havaí (EUA) - Variedade transgênica
em experimento no Brasil é muito similar
à variedade cultivada no Havaí
que vem enfrentando perda de mercados; deputado
federal vai solicitar informações
à CTNBio
Diversos agricultores locais
e ativistas havaianos se uniram hoje ao Greenpeace
para realizar a descontaminação
de uma lavoura orgânica de mamão
papaia que havia sido contaminada por plantações
transgênicas vizinhas. A área
foi isolada com placas que diziam “Mamão
transgênico – área restrita”,
enquanto ativistas com roupas especiais removeram
plantas, sementes e frutos do local. A atividade
marcou o lançamento do relatório
“O fracasso do mamão transgênico
no Havaí”.
De acordo com o relatório,
os lucros do papaia transgênico diminuíram
substancialmente devido à crescente
e forte rejeição de mercados
globais importantes. O mercado de exportação
para o papaia havaiano estava bastante aquecido
até a introdução da variedade
transgênica, em 1998. A maior parte
dos países que importam mamão
papaia, incluindo União Européia,
Japão e China, tem grande rejeição
a alimentos transgênicos.
Além disso, os produtores
orgânicos estão muito preocupados,
já que o Havaí é a parte
do mundo com mais plantios transgênicos
por metro quadrado e é, atualmente,
a única região a plantar mamão
transgênico comercialmente.
“O preço do papaia
orgânico no mercado pode ser até
três vezes maior do que o da variedade
geneticamente modificada,mas isso só
acontece se não houver contaminação”,
disse Melanie Bondera, agricultora havaiana.
“A indústria transgênica nos
prometeu grandes lucros, mas até agora
só temos visto a ruína de nossas
lavouras e uma diminuição de
nossos ganhos”.
Papaia brasileiro
No Brasil, um campo experimental
de papaia transgênico foi autorizado
pelo Ibama em outubro de 2003, no município
de Cruz das Almas, na Bahia. A variedade,
desenvolvida pela Embrapa, é bastante
similar à plantada no Havaí
e está gerando preocupação
em diversos setores da sociedade. O deputado
Edson Duarte (PV-BA) anunciou que vai fazer
um requerimento formal à CTNBio sobre
o andamento do campo experimental. O Greenpeace
vai pedir que a procuradora Maria Soares Cordioli
também solicite formalmente informações
à CTNBio sobre o campo experimental
e outros pedidos relativos ao mamão
transgênico. Desde o último dia
18 de maio, o Ministério Público
Federal determinou a presença da procuradora
em todas as reuniões da CTNBio.
O Brasil é o maior
produtor mundial de papaia, e o terceiro maior
exportador da fruta. A produção
anual brasileira é de cerca de 1,7
milhão de toneladas, o que corresponde
a cerca de 35% da produção mundial
de mamão. Em 2004, as exportações
de papaia renderam US$ 22 milhões ao
Brasil, e as estimativas para 2005 eram de
que esse valor subisse para US$ 28 milhões.
Internamente, o mamão também
é muito importante: é a terceira
fruta mais consumida pelos brasileiros.
O Greenpeace vem trabalhando
em diversas partes do mundo para evitar a
disseminação ilegal de papaia
transgênico e a contaminação
de variedades tradicionais de mamão.
Por se tratar de uma espécie que se
multiplica muito facilmente, a preocupação
é ainda maior, já que é
muito difícil evitar a contaminação
vinda de lavouras transgênicas vizinhas.
Tailândia
Atualmente, há um
caso judicial na Tailândia contra a
coordenadora da campanha do Greenpeace no
Sudeste Asiático, Patwajee Srisuwan,
e o ex-diretor-executivo da organização,
Jiragorn Gajaseni, que estão sendo
processados por roubo, invasão e dano
à propriedade por terem acusado uma
agência governamental tailandesa de
participação na distribuição
ilegal de papaia transgênico no país.
"O governo tailandês
tentou suspender a atual moratória
aos transgênicos, cedendo à pressão
do governo norte-americano e da indústria
agroquímica. No entanto, os tailandeses
não querem os transgênicos aqui,
porque não queremos perder nossos mercados,
como aconteceu no Havaí”, afirmou Patwajee
Srisuwan.