trabalho escravo. “A agricultura familiar
gera dez vezes mais empregos que as grandes
fazendas e ainda cria maior oportunidade de
desenvolvimento para as comunidades locais”,
disse Tatiana Carvalho, da campanha do Greenpeace
na Amazônia. “Além disso, a expansão
da soja na região tem gerado vários
problemas sociais, como a pressão exercida
sobre famílias para deixarem suas terras
e o processo de favelização
da periferia de Santarém”.
A caminhada começou com a concentração
em frente ao Mercadão 2000, local simbólico
para as comunidades locais, pois é
lá que produtores familiares comercializam
sua produção. Estudo recente
da ONG Fase aponta que cinco produtos importantes
da produção familiar têm
tido menos oferta nos mercados de Santarém,
com conseqüente alta nos preços.
Após a concentração,
às 10h30, a marcha seguiu em direção
à entrada do porto ilegal da Cargill,
multinacional norte-americana líder
na exportação de soja e uma
das principais responsáveis pelo desmatamento
gerado pela expansão da soja na Floresta
Amazônica.
Durante a passeata, as pessoas gritavam:
“Cadê a floresta que estava aqui? A
soja comeu. Cadê a praia que estava
aqui? A soja comeu. Cadê o peixe que
estava aqui? A soja comeu. Cadê a biodiversidade
que estava aqui? A soja comeu”. Ao chegar
à Cargill, aos gritos de “Fora já
Cargill, nós somos da Amazônia
e defendemos o Brasil”, deram as costas para
o porto da empresa.
Depois, foi servido um almoço com
produtos cultivados na agricultura familiar
como baião de dois, peixe frito, macaxeira
cozida, farofa e suco de cupuaçu.
“Queremos paz, progresso e desenvolvimento
cultural e político. Queremos combater
as afirmações de que essa população
é preguiçosa, pois essa gente
trabalha de sol a sol. Não vamos aceitar
provocações de quem vem de fora”,
afirmou Paulo Roberto Spósito Oliveira,
o Magnólio, do Projeto Saúde
e Alegria, referindo-se às agressões
e ofensas praticadas recentemente por produtores
rurais, quando um deles chamou moradores de
Santarém de “índios preguiçosos”.
“Nós, nativos, estamos nos sentindo
agredidos em nossa cultura, etnia e natureza
porque forasteiros agridem nossa região,
geram lucro para poucos e nós ficamos
sem nossa floresta e sem futuro para nosso
povo”, disse o padre Edilberto Sena, da Frente
de Defesa da Amazônia.
Segundo a Polícia Militar, cerca de
50 produtores de soja tentaram impedir a marcha,
com carros e caminhonetes, mas foram impedidos
pelos policiais. Cerca de cem homens da Polícia
Militar foram destacados para garantir a paz.