24/05/2006
- Brasília – Um inquérito foi
aberto para investigar o assassinato de dois
índios do povo Truká: Adenilson
dos Santos Vieira, de 38 anos, e seu filho,
Jorge Adriano Ferreira Vieira, de 17 anos.
O crime ocorreu há quase um ano, no
final de junho de 2005, quando era realizada
uma festa no município de Cabrobó,
interior pernambucano. Os Truká acusam
membros da Polícia Militar de Pernambuco
de terem sido os autores do assassinato. A
Polícia Militar de Pernambuco não
quis conceder entrevista à Agência
Brasil sobre o tema.
No dia do crime, cerca de
600 pessoas assistiam à cerimônia
de entrega de casas populares e pavimentação
do povoado truká. Participavam do ato
o então ministro da Integração
Nacional, Ciro Gomes, e o presidente da Fundação
Nacional do Índio (Funai) Mércio
Pereira Gomes. Após a cerimônia,
no início da noite, quando as autoridades
já tinham partido, quatro policiais
militares teriam entrado sem uniforme na aldeia
durante uma festa organizada pelos indígenas
para comemorar as novas casas.
"Já entraram
com as armas em punho, atirando dentro do
salão onde era o evento, e terminaram
assassinando o Adenilson, e os tiros foram
todos pelas costas e matando o menino (Jorge
Adriano Ferreira Vieira) também a sangue
frio", relata o cacique da aldeia, Aurivan
dos Santos Barros. Conhecido como Neguinho
Truká, o cacique é irmão
e tio das vítimas.
"O que mais nos estranha
é que eles diziam que estavam cumprindo
mandado de prisão naquela hora da noite,
não tinha nada que os identificasse
como policiais militares. Estavam de short,
camisetas, chinelos e bonés",
afirmou, em entrevista à Agência
Brasil.
O caso vem sendo investigado
pela Delegacia da Polícia Federal (PF)
no município pernambucano de Salgueiro.
A PF, a pedido do Ministério Público
Federal, está colhendo informações
para saber se houve, por parte dos índios,
resistência à autoridade. Também
quer saber quem são os autores dos
assassinatos. O caso corre pelo processo número
2005.83.08.001319-1, na 20ª Vara Federal.
O Ministério Público afirmou
que, como o processo corre em segredo de justiça,
não pode apontar quem está sendo
investigado como suspeito do crime.
Segundo o Conselho Indigenista
Missionário (Cimi), os policiais militares
que executaram a operação, ao
serem ouvidos, teriam dito que foram recebidos
a tiros pelos próprios índios
e eles apenas reagiram. Mas os Truká
negam a versão e afirmam que estavam
durante uma comemoração, sem
a menor chance de reagir.
Neguinho Truká questiona
o inquérito por, segundo ele, não
aceitar os índios como testemunhas,
por serem parciais. "Em nenhum momento,
ele leva em consideração o depoimento
das testemunhas nossas. Se nós estávamos
dentro de uma festa no nosso território,
onde só tinha índio. A gente
fica se perguntando a quem mais teria que
escutar?"
Outra irregularidade, segundo
o Cimi, é que Neguinho Truká
chegou a ser preso no momento em que ia depor
como testemunha. Ele teria recebido voz de
prisão em razão de um mandado
expedido pela Comarca de Cabrobó por
furto de duas cabeças de gado.