22/05/2006 - Começa
hoje o II Seminário de Educação
Escolar Indígena de São Gabriel
da Cachoeira (AM), evento que define as diretrizes
para o ensino público no mais indígena
dos municípios brasileiros. Entre os
principais destaques do seminário estão
a gestão das escolas pelas comunidades
e a valorização das línguas
e conhecimentos nativos dentro das salas de
aula.
De hoje a 26 de maio, o
município de São Gabriel da
Cachoeira discute os rumos da educação
escolar indígena para a região
do Alto Rio Negro, no Amazonas. Trata-se do
II Seminário de Educação
Escolar Indígena, evento que tem a
finalidade de definir as diretrizes do Plano
de Educação Escolar Indígena
do município. São Gabriel da
Cachoeira, situado na fronteira com Colômbia
e Venezuela, abriga cerca de 550 comunidades
de 23 etnias locais - o que o caracteriza
como o mais indígena entre todos os
municípios brasileiros. Promovido pela
Federação das Organizações
Indígenas do Rio Negro (Foirn), Instituto
Socioambiental (ISA) e Ministério da
Educação (MEC), o II Seminário
de Educação Escolar Indígena
vai debater, entre seus principais assuntos,
a gestão indígena sobre as escolas,
com base no Programa Regional de Desenvolvimento
Indígena Sustentável (PRDIS),
e a experiência das escolas-piloto desenvolvida
pela Foirn em parceria com o ISA.
O PRDIS, lançado
em 2003, é o conjunto de ações
integradas que propõe implementar políticas
públicas em parceria com os governos
federal, estadual, municipal e demais organizações
não-governamentais, visando o desenvolvimento
regional adequado para os povos indígenas
da região do Rio Negro. A idéia
é que os próprios indígenas
possam gerir suas escolas, em parceria com
as instituições que trabalham
com educação escolar indígena
diferenciada.
O referencial para as novas
modalidades na política educacional
na região é o projeto de educação
executado pela Foirn e pelo ISA, que tem dez
anos de existência e atualmente é
composto por cinco escolas-piloto em diversos
rios da bacia do Rio Negro. As escolas surgiram
a partir das reivindicações
das próprias comunidades indígenas,
que observaram que o ensino tradicional não
formava cidadãos indígenas falantes
da língua indígena e que pudessem
contribuir para melhorar a qualidade de vida
de suas comunidades. As escolas se sustentam
em Projetos Políticos Pedagógicos
(PPPs) adequados à realidade de cada
localidade, baseados na vivência dos
alunos em suas comunidades, na valorização
da língua nativa e dos saberes tradicionais,
sem deixar de lado os conhecimentos da sociedade
não-indígena. As escolas também
promovem projetos de manejo sustentável
dos recursos naturais da região, como
piscicultura, agroflorestas, meliponicultura,
avicultura, produção de artesanatos,
entre outros.
Durante o seminário,
as escolas-piloto terão espaço
para apresentar suas experiências, relatando
a construção da proposta pedagógica
de ensino, forma de participação
da comunidade e de que modo elas utilizam
e preservam as línguas nativas, a vivência
em comunidade e a relação com
outros povos não-indígenas.
Outro ponto importante do
II Seminário de Educação
Escolar Indígena será a avaliação
do termo de compromisso assinado pelas instituições
que trabalham com educação em
São Gabriel da Cachoeira. O documento,
assinado durante o I Seminário de Educação
Escolar Indígena, realizado em fevereiro
de 2005, atribuiu responsabilidades para cada
instituição envolvida, a fim
de articular e implementar um plano educacional
adequado às comunidades indígenas.
O seminário dos próximos dias
deve confirmar quais instituições
estão realmente comprometidas com esse
objetivo.
A pauta do evento ainda
inclui a inserção da educação
escolar indígena no Plano Diretor de
São Gabriel da Cachoeira, instrumento
que está sendo elaborado para orientar
e planejar ações prioritárias
do poder público municipal para os
próximos 10 anos. É a oportunidade
de a prefeitura local firmar novos compromissos
com a educação, garantindo uma
crescente participação indígena
na sua gestão. O seminário será
ainda o espaço para que a comunidade
decida quais modelos de escolas devem ser
construídos no município pelo
governo federal, que prevê para os próximos
meses a edificação (ou estruturação)
de novas 40 unidades de ensino. Saiba mais.
O II Seminário
de Educação Escolar Indígena
tem confirmadas as presenças de autoridades
e especialistas, como Ricardo Henriques, Armênio
Bello e Kléber Gesteira, da Secretaria
de Educação Continuada, Alfabetização
e Diversidades (MEC), Marta Azevedo (coordenadora
do projeto de educação indígena
no Alto Rio Negro do ISA), Gedeão Timóteo
Amorim (secretário de Educação
do Amazonas), entre outros. O seminário
deve contar também com a participação
de estudantes, professores e lideranças
indígenas, líderes religiosos,
universitários e representantes de
instituições governamentais
e não-governamentais.