24/05/2006
- Manaus (AM) - Os ribeirinhos do Amazonas,
apesar de morarem à beira dos rios
e igarapés que compõem a maior
bacia hidrográfica do mundo, sofrem
com a falta de água apropriada para
higiene pessoal e para consumo.
Na tentativa de melhorar
a situação, o Programa Estadual
de Aproveitamento da Água da Chuva
(ProChuva) deve ser ampliado para pelo menos
320 comunidades da mesorregião do Alto
Solimões (na fronteira com o Peru e
a Colômbia). Há três meses,
o ProChuva funciona de forma piloto em uma
reserva de desenvolvimento sustentável
de Manacapuru (AM).
"Faz parte da cultura
das populações ribeirinhas coletar
água de chuva. Ela é considerada
pelos moradores como uma água boa,
mas que apodrece rápido", contou
o secretário-adjunto de Recursos Hídricos
da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável (SDS) do
Amazonas, Neliton Marques, em entrevista ao
programa Ponto de Encontro , da Rádio
Nacional (Amazônia).
De acordo com ele, o "apodrecimento"
ocorre porque a água é coletada
de maneira rudimentar, junto com restos de
folhas, fezes de passarinhos e insetos mortos
que caem nos telhados. "No nosso sistema,
a água corre por tubos de PVC colocados
no alto das casas e passa por um sifão,
onde as impurezas ficam depositadas",
explicou Marques. "Essa água pode
ser ingerida, desde que a pessoa ferva ou
coloque hipoclorito de sódio ( para
cada litro de água, uma gota da substância,
que é distribuída nos postos
de saúde."
A chamada "escassez
de qualidade na quantidade" piora durante
a seca (o verão amazônico, que
vai de agosto a novembro). Nessa época,
a população diz que o peixe
está `diaiú´, abrindo
e fechando a boca porque há pouco oxigênio
na água. Na seca, o banho no rio pode
provocar problemas dermatológicos,
como coceiras e vermelhidão na pele,
além de diarréias.
O ProChuva já beneficia
64 famílias e é desenvolvido
na Reserva de Desenvolvimento Sustentável
do Piranha, em Manacapuru. O Ministério
da Integração Nacional aprovou
um projeto no valor de R$ 5 milhões
para construir 6,4 mil cisternas em 320 comunidades
do Alto Solimões.
Além disso, a Fundação
Nacional de Saúde (Funasa) analisa
uma proposta de parceria com o governo estadual,
para ampliar as ações para todo
o Amazonas – com investimentos previstos de
R$ 10 milhões. Hoje, o programa atua
prioritariamente dentro de unidades de conservação,
em comunidades com mais de 20 casas, que não
tenham poço artesiano.
"A gente implanta cisternas
individuais e comunitárias, com capacidade
para 15 mil litros de água", contou
Marques. "Aqui as cisternas não
precisam ser grandes como no Semi-Árido,
porque chove o ano inteiro. Nos meses de seca,
costuma chover 50 milímetros, o que
dá 50 litros por metro quadrado."