31/05/2006
- Agência FAPESP - As lideranças
indígenas da Amazônia, por falta
de articulação no cenário
nacional, acabam interessando-se mais pela
política local. Em defesa dos interesses
coletivos de suas comunidades, elas optam
por ocupar apenas cargos de prefeito ou de
vereador.
“Os movimentos indígenas
brasileiros têm força suficiente
para montar uma ampla agenda de reivindicações,
mas ainda encontram dificuldades para implementá-las
no âmbito nacional. O caminho mais viável
acaba sendo a política local”, disse
Gabriel Alvarez, professor do Departamento
de Antropologia da Universidade de Brasília
(UnB), à Agência FAPESP.
O pesquisador está
desenvolvendo uma pesquisa sobre a relação
dos índios com a política com
base em dados coletados em diversas expedições
em todo o país. Uma das principais
fontes de informação do estudo
foi a Expedição Humboldt, organizada
pela UnB em 2000, quando Alvarez integrou
o grupo de cientistas que percorreu aproximadamente
10 mil quilômetros na Amazônia.
Entre os municípios
que já contam com representantes de
origem indígena na política
local estão Oiapoque (AP), Atalaia
do Norte (AM), Tabatinga (AM) e Benjamin Constant
(AM). Para Alvarez, atualmente dois municípios
do Amazonas estão mais próximos
de eleger um candidato índio como prefeito
nas próximas eleições:
Barreirinha e São Gabriel da Cachoeira,
onde a população indígena
é maioria.
“O Estado do Amazonas nunca
teve um prefeito indígena. Historicamente,
o Brasil teve apenas três prefeitos
nessas condições: no Amapá,
em Roraima e em Minas Gerais. Quase uma centena
de índios em todo o país já
ocupou o cargo de vereador”, conta o antropólogo.
No cenário nacional,
a meta das lideranças indígenas
é fortalecer suas tribos por meio de
parcerias com organizações não-governamentais
e movimentos sociais. “Um dos interesses é
a criação de uma secretaria
federal voltada para os assuntos indígenas.
A idéia é que a Funai (Fundação
Nacional do Índio) seja um dos braços
executivos dessa secretaria”, disse Alvarez.
O estudo mostra ainda que,
diferentemente de outros países latino-americanos,
como na Bolívia, que possui partidos
e, agora, até um presidente indígena,
no Brasil não existe nenhum partido
político indígena. A participação
dos índios aqui ocorre pela negociação
com os partidos majoritários.
“Os índios representam
menos de 1% da população brasileira
(na Bolívia eles são 60%), por
isso eles nem pensam em criar um partido étnico.
Mas muitos deles crescem em contato com os
brancos, o que acaba gerando um número
crescente de lideranças capacitadas
para serem interlocutoras entre os dois mundos”.
Segundo o antropólogo, os indígenas
são atores políticos que estabelecem
diálogos paritários entre todos
os atores sociais, sem necessidade de tutela.