Instituições
comemoram o Dia do Meio Ambiente com iniciativa
pela conservação e desenvolvimento
sustentável do Vale do Gurupi
Belém, 02 de junho
de 2006 — Em 05 de junho, Dia Mundial do Meio
Ambiente, quatro associações
indígenas do Vale do Gurupi, a Fundação
Nacional do Índio (Funai), o Museu
Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e a Conservação
Internacional (CI-Brasil) vão oficializar
a “Aliança pela conservação
e desenvolvimento sustentável do Vale
do Gurupi”, através da assinatura de
um Protocolo de Intenções.
O objetivo é estabelecer
uma estreita cooperação entre
as instituições signatárias
visando à definição de
estratégias e à promoção
de ações para o desenvolvimento
sustentável e a conservação
da biodiversidade da região.
O Vale do Gurupi - Localizado
na divisa entre os estados do Pará
e Maranhão, o Vale do Gurupi é
uma região especial, tanto do ponto
de vista cultural quanto biológico.
Populações indígenas
dos povos Tembé, Ka’apor, Guajajara,
Guajá e Munduruku ainda habitam a região,
mantendo suas culturas tradicionais. Além
disso, a região apresenta grande importância
biológica, já que possui alguns
dos últimos remanescentes de floresta
amazônica ao leste do Rio Tocantins.
As florestas da região
abrigam espécies endêmicas da
fauna e da flora, além de espécies
em perigo de extinção, como
os primatas cairara-ka’apor (Cebus kaapori),
o cuxiú-preto (Chiropotes satanas),
a ararajuba (Guarouba guarouba) e a ariranha
(Pteronura brasiliensis). “Essa região
é um dos mais importantes centros de
endemismo da Amazônia, denominado pelos
cientistas como o Centro de Endemismo de Belém.
É o centro de endemismo mais ameaçado
de toda a região amazônica, com
67% de suas florestas já desmatadas.
Isso porque trata-se de uma das zonas de colonização
mais antigas da Amazônia”, explica Adriano
Jerozolimski, analista de biodiversidade da
CI-Brasil.
O Vale do Gurupi possui
uma unidade federal de conservação
de proteção integral, a Reseva
Biológica (Rebio) do Gurupi, e quatro
Terras Indígenas (Tis): Alto Rio Guamá,
Alto Turiaçu, Awá e Caru. Juntas,
formam um bloco contínuo de floresta
com 1.373.400 hectares. Enquanto a Rebio do
Gurupi apresenta uma grande parte de sua área
desmatada ou alterada pela extração
ilegal de madeira, as Terras Indígenas
da região ainda mantêm intactas
grande parte de suas florestas. “Isto pode
ser, em grande parte, atribuído à
luta das populações indígenas
da região para retomar o controle de
seus territórios tradicionais, intensivamente
invadidos no passado”, afirma Francisco Potiguara,
indigenista da Funai- Belém.
Exploração
predatória - Apesar de grande parte
das florestas nativas do Centro de Endemismo
Belém já ter sido degradadas
por atividades agropecuárias, a pressão
sobre os últimos remanescentes de floresta
que estão nas TIs e na Rebio do Gurupi,
ainda continua. Em ritmo acelerado, as florestas
originais vêm cedendo espaço
para atividades de exploração
não sustentável, como produção
de madeira, fornecimento de carvão
para indústrias siderúrgicas,
pecuária e agricultura. Sem capacitação
e apoio para o desenvolvimento de atividades
econômicas sustentáveis, as comunidades
indígenas podem tornar-se reféns
do processo econômico vigente, que hoje
ameaça a integridade de suas terras.
“Se a situação continuar desse
jeito, atingindo níveis que ameaçam
a existência das florestas na região,
a sobrevivência dos povos indígenas
e de várias espécies que só
são encontradas nessa região
estará seriamente comprometida”, avalia
Adriano Jerozolimski, Analista de Biodiversidade
da CI-Brasil.
Para José Maria Cardoso,
vice-presidente de ciência da CI-Brasil,
“a manutenção desses remanescentes
de florestas é de crucial importância
para a sobrevivência dessas populações
indígenas e para a conservação
de diversas espécies endêmicas,
raras e ameaçadas de extinção”.
Projetos em andamento –
Desde 2003, o MPEG e a CI-Brasil estabeleceram
uma parceria para o desenvolvimento de um
projeto denominado “Biota Pará”. O
projeto visava, entre outras prioridades,
elaborar um plano de conservação
para os remanescentes de floresta do Centro
de Endemismo Belém. Mais recentemente,
a Administração Regional da
FUNAI, diante das fortes pressões sobre
as populações indígenas
do Vale do Gurupi e da ausência de perspectivas
concretas de mudanças, procurou o MPEG
e a CI-Brasil para formar uma aliança
visando alterar o cenário atual da
região.
No âmbito do Projeto
Biota Pará, o MPEG e pela CI-Brasil
estão levantando informações
sobre a cobertura vegetal e a biodiversidade
do vale (incluindo dados sobre espécies
ameaçadas de extinção),
que serão utilizadas para a definição
de um planejamento estratégico a fim
de garantir a conservação da
diversidade cultural e biológica da
região. Paralelamente, a equipe da
área de Lingüística do
MPEG, com apoio da USAID (Agência Norte-Americana
para o Desenvolvimento Internacional) e CI-Brasil,
está desenvolvendo um projeto de documentação
cultural, que inclui o registro de danças,
cantos, ritos e narrativas Tembé, através
da elaboração de CDs e DVDs.
As informações e os materiais
que estão sendo produzidos serão
importantes em um programa mais amplo de educação
focalizado na valorização da
cultura material e imaterial dos Tembé,
podendo ser estendido às demais etnias
que habitam o Vale do Gurupi.
"Conservar a diversidade
cultural e biológica do Centro de Endemismo
Belém, e em especial do Vale do Gurupi,
é um grande desafio de toda a sociedade.
Vamos precisar restaurar florestas em locais
estratégicos, implementar a Rebio do
Gurupi, ajudar as comunidades indígenas
a manterem a integridade de suas terras e
convencer os proprietários rurais a
criarem Reservas Particulares do Patrimônio
Natural em suas terras”, afirma José
Maria Cardoso. Para ele, só assim será
possível garantir a conexão
entre os remanescentes de florestas e assegurar
a viabilidade das populações
de animais e plantas ameaçados de extinção.
“Para alcançar esses resultados será
necessário ciência de boa qualidade,
o fortalecimento das ações dos
órgãos governamentais na região
e o estabelecimento de parcerias com vários
setores da sociedade, particularmente com
as empresas dos setores florestal e mineral”.
Para Ima Vieira, diretora
do MPEG, “a parceria do museu, da Funai e
a da CI-Brasil possibilitará o fortalecimento
das ações das três instituições
na região por meio de um esforço
coordenado para a resolução
dos desafios identificados”. Ima Vieira destaca,
ainda, que “a Aliança está aberta
para a participação de outras
instituições interessadas na
conservação dos remanescentes
florestais e no apoio às comunidades
indígenas locais”.